Zechs Marquise é mais uma banda com assinatura Rodriguez-Lopez. Não, não é outro projecto do guitarrista de Mars Volta, que já nada tem a provar. Este é de dois irmãos seus, dois que têm, sim, algo a provar – ou, como opção, podem permanecer na sombra do seu irmão mais velho. Claro que a última hipótese não foi, sequer, ponderada e Our Delicate Stranded Nightmare surge como reflexo dessa vontade.

Naturalmente, o trabalho de Omar Rodriguez-Lopez não pode ser dissociado do dos seus irmãos, pois as semelhanças das bases deZechs Marquise e dos projectos do já muito respeitado guitarrista são óbvias. No entanto, o caminho escolhido por esta banda é claramente diferente: se Omar trocou o Dub por um Rock mais eclético – de DeFacto para Mars Volta –, os seus irmãos decidiram manter o género como estrutura de desenvolvimento da banda. A partir daqui tudo é história, pois Zechs Marquise não soa a Mars Volta, ainda que a ideia de desenvolvimento de ambas as bandas seja semelhante.

Zechs Marquise é um projecto instrumental claramente progressivo, tanto pela contínua Jam Session, como pela subversão da base melódica, ou pela imprevisibilidade. Our Delicate Stranded Nightmare está repleto de improvisos, que se encontram em solos (elemento constante da composição desta banda) e mesmo, por vezes, na totalidade de algumas das músicas que conseguem soar a perfeitos devaneios; e repleto de pequenas destruições da ideia base da música, que melodicamente é quase sempre Dub, mas que acaba a soar a algo mais Rock, graças a explosões e a crescendos, ou a simples explorações de texturas, graças à sobreposição de efeitos e ao improviso excessivo. E se isto tudo não é imprevisível e progressivo, não há outra maneira de etiquetar esta banda.

A forma como organizaram o álbum e as suas composições dá espaço para este assalto constante do elemento surpresa, que acaba por desenhar um padrão – e até este padrão os Zechs Marquise acabam por destruir com uma simples música electrónica que faz todo o sentido onde está, mas que não era de todo esperada. Nada, na primeira audição deste registo, consegue ser percebido em antecipação. Nem sequer depois de ouvido Our Delicate Stranded Nightmare parece ser inteligível, pois soa a um produto de quatro esquizofrénicos.

Ainda assim, é impossível não se ficar cativado por esta faixa ou por aquela que estão realmente bem construídas, como por exemplo MagMar, Chase Scene ou Sirenum Scopuli, ou mesmo intrigado com o súbito surgir de The Sounds of El Morro, que começa numa melodia embrulhada e sem sentido aparente e desembaraça-se numa música electrónica muito rápida e completamente desencontrada das restantes músicas do álbum – mas que não podia estar melhor colocada, como frisei em cima. São estes minutos que levam à segunda audição e que acabam por fazer com que este registo caia nas boas graças do ouvinte, pois são os minutos que realmente valem no álbum.

Marcos Smith, Matthew Wilkson e os irmãos Rodriguez-Lopez,Marcel e Marfred, não criaram nenhuma obra-prima nem um álbum marcante. Conseguiram, sim, desmarcar-se da presença de alguém que lhes é próximo e que assombrava o legado dos Zechs Marquise. Our Delicate Stranded Nightmare pode ter-lhes custado muitas horas de sono, mas não foi em vão: um caminho diferente daquele que os Mars Volta percorrem está traçado. Ficamos para ver onde acaba.