Late bloomers é uma tag que não seria mal aplicada aos Yob. Apesar de o seu talento ter ficado patente em Elaborations of Carbon e Catharsis, os dois primeiros álbuns de carreira, só bem mais tarde os norte-americanos saltaram para o plateau principal da cena doom/sludge. Foi The Great Cessation, lançado em 2009 (já depois de um hiato de dois anos), que fez com que os holofotes se dirigissem para este trio. Consequentemente, Atma tornou-se num dos trabalhos mais aguardados do presente ano e, felizmente, não entra para o capítulo das desilusões.

Atma faz-se apresentar com Prepare The Ground, uma faixa reminiscente daquele denso e vagaroso groove de Yob, bem conhecido de músicas como Quantum Mystic, onde os riffs graves e maciços de Mike Scheidt constroem uma muralha sonora que vai gravitando em redor de quem o ouve. Não é surpresa. Scheidt, para além de deter um tom de voz bem particular, é cada vez mais um guitarrista de referência. Principalmente quando se decide aventurar pela criação de melodias e solos esquizóides: aí, o resultado é quase sempre (e cada vez mais) positivo. Before We Dreamed of Two, uma das duas faixas que tem Scott Kelly dosNeurosis na voz, prova-o; o líder dos Yob tanto distribui toneladas de distorção drone, como serve um consistente tecido cósmico através de uma guitarra mergulhada em efeitos múltiplos. O que permite, aliado à excelente dupla rítmica composta por Aaron Reinberg e Travis Foster, conceber quase dezassete minutos de composição fértil em dinamismo e progressão.

Poder-se-á concluir até que Atma é fruto de um maior investimento nesse capítulo mais etéreo. Se fosse possível colocar na balança o peso e a atmosfera, dois elementos fulcrais no som de Yob, desta vez venceria a última. Apesar de faixas como a homónima e Upon The Sight Of The Other Shore serem exemplos daquele clássico e esmagador som da banda, começa a notar-se uma tendência nos norte-americanos, uma tendência que busca um caminho mais experimental – se era habitual ouvir Scheidt perder a sanidade em cima de uma estrutura rítmica firme, agora até baixo e bateria se comprometem a dissolver o estaticismo. E essa é uma tendência que tem provavelmente como finalidade aquilo que os Neurosisconseguiram: um som com um cunho próprio, sem que, no entanto, seja possível defini-lo através de uma só vertente. Usando a velha metáfora da heteronímia de Fernando Pessoa, os Yob são um espelho fracturado, cuja identidade está repartida pelos pedaços resultantes do momento da quebra.

Essa tal busca fica evidente na música de encerramento, já queAdrift In The Ocean parece representar o trilho mais diversificado que a banda do Oregon deseja seguir. Iniciada por um hipnótico build up, os Yob fortalecem a sua carreira com uma música notável, cujo apogeu acontece depois de Scott Kelly conceder, através de um murmúrio impactante, a sua bênção. De lamentar, apenas, o facto de a música não se estender para lá dos treze minutos – teria sido boa ideia eternizar aquele melódico rendilhado concebido por Mike Scheidt.

É muito difícil julgar este álbum como o melhor da cronologia do grupo. Mas uma coisa é certa: Atma revelar-se-á, quando daqui a uns anos se olhar retrospectivamente para o percurso da banda, um passo crucial, seja lá qual for a direcção futura de Yob. Um passo que chega para fazer deste disco um dos melhores de 2011.