Meti-me no prog-rock em parte pela infinita sabedoria do meu pai, que me mostrou Genesis e Yes numa tentativa de deixar os Limp Bizkit e os Linkin Park. Acabei por preferir as capas dos Yes aos CD-R sem capas de Fred Durst e lembro-me como se fosse ontem o prazer que foi ouvir Roundabout e sentir aquele baixo pujante. Sim, desde esse dia, as linhas do baixo de Chris Squire alojaram-se algures aqui pelo meu cérebro e nunca mais saíram. Na quinta feira, encontrei Squire a vivo e a cores, em carne e osso e mesmo com a idade a pesar-lhe visivelmente no corpo, Squire levou-me de volta a esse dia.
Embora a primeira metade do concerto se tenha focado em Fly From Here (o primeiro disco em 10 anos, com um vocalista novo e que, como mandam as regras, condensa 40 anos de carreira) os britânicos não demoraram muito até provar que para eles tocar é como andar de bicicleta. Bastou aliás uma música para que o Coliseu, praticamente cheio, explodisse de alegria. Houve aplausos de pé, braços erguidos no ar em euforia, como se de o festejo de uma vitória se tratasse. Não é para menos: os Yes continuam iguais a si mesmos. O órgão multicolorido e berrante, as combinações harmónicas da voz com os instrumentos, os solos recheados de sentimento e… as camisas de gosto duvidoso.
Há um notório gozo nesta banda em subir ao palco e tocar. Um gozo que não se vê muitas vezes e que acaba por passar para o público. Alan White, por exemplo, não tem a agilidade nem a pujança de outros tempos, mas esteve sempre dentro do ritmo. Geoff Downes, recém-entrado para a banda, manteve a orquestra sempre em sentido. E Chris Squire, bem, que dizer mais? Sempre aguerrido, sempre com um sorriso na cara, sempre melódico-harmónico como o tenho gravado no cérebro. E depois, claro, Steve Howe o homem que nunca pareceu jovem, de maneira que acabou por nunca envelhecer. Ficou igual ao longo dos anos, sempre com a mestria de como manusear uma guitarra como mais ninguém na ponta dos dedos e isso viu-se em Close to the Edge.
Ah, Close to the Edge, momento máximo da grandiloquência dos Yes e do rock-progressivo em geral. Uma peça que mostra como este género musical ficou cristalizado, conservado por âmbar para uma posteridade disposta a contemplá-lo de forma atenta. Se isso é bom, ou mau, dependerá do gosto de cada um e de quem o faz, mas o certo é que com os Yes nada soa datado. Roundabout, servida no encore, tem frescura e agitação. Owner of a Lonely Heart, um passo em falso na carreira dos Yes e curiosamente paralelo à fase final da carreira dos Genesis, soou mais pesada. ESouth Side of The Sky foi, bom, magnânime. Quase deu para esquecer que é Benoît quem dá a voz aos Yes em 2011.
Sim, Benoît David não tem pinta para estar aqui. Claro que substituir Jon Anderson é tão ingrato como impossível, mas David deixou claro desde o início que não tem pés que cheguem para calçar aqueles sapatos. Seja pelo timbre, pela postura ou até pela forma deselegante como desafina, o canadiano obrigou muita gente a que se recaisse no constante exercício de se esquecer a voz e focar apenas a mestria instrumental e exemplar destes veteranos. Mas quando se toca grande parte de Fragile e ainda se ouve Starship Trooper, esquece-se uma coisa ou outra.
É verdade, velhos são os trapos.