Falar sobre Yann Tiersen em 2011 pode parecer (mas não é) anacrónico ou desactualizado. E, de facto, para quem só acordou agora, depois de um longo sono desde 2001 (altura do lançamento do filme – e respectiva banda-sonora – Le fabuleux destin d’Amélie Poulain), Skyline vai provocar, avisamos já, quedas da cadeira rotativa onde se encontram.

Com efeito, foi essa adaptação para a grande tela, bem como a deGoodbye! Lenin, cheia de pianadas e acordeãos, que catapultou o francês para o reconhecimento internacional. Contudo, a carreira de Yann Tiersen nunca se quedou por isso, facto que o músico até encara com desprezo – falámos com ele, em 2009, aquando dapreview do seu anterior registo, Dust Lane, que nos confessou esse descontentamento perante a limitação da sua carreira, sob o prisma de muitos. Aliás, nessa mesma altura, a viragem sónica de Tiersen já era notória: mais efeitos experimentais, mais instrumentalização embebida de pós-rock e um maior léxico musical, que abrangia a folk e o avant-garde.

Em consequência, Skyline acaba por nem se revelar uma grande surpresa, dado que retoma essa linha que fez abandonar largas dezenas de audiência a meio do seu espectáculo, no Centro Cultural de Belém, há dois anos. Aliás, a própria faixa inaugural deste novo registo arrisca-se a ser um dos melhores pontapés de arranque em discos destes doze meses: com uma distorção de bradar aos céus por mais, nos segundos iniciais, precedida de um xilofone em riste, Another Shore é o prenúncio correcto do que nos espera nos próximos oito temas.

Efectivamente, ao sétimo disco, é como se Tiersen tivesse descoberto a sua própria essência, ouvindo muito os grandes Sigur Ròs e Godspeed You! Black Emperor, que também frequentam esse templo dos xilofones e dos crescendos de longas faixas, como Monuments retrata. Contudo, apesar de coeso,Skyline é um disco variado em termos de influências, resultado do uso e abuso de guitarras acústicas e eléctricas, que nos trazem à memória paisagens country e folk. Se lhe juntarmos os sintetizadores futuristas e back-vocals em jeito de interlúdio, podemos, em plena consciência, afirmar que este é o seu disco mais post-rock até à data.

Porém, que não se encare este facto com desconfiança. Isto porque Skyline é um trabalho com uma beleza de arrepiar, tremendamente bem-conseguido e melodicamente fértil em ideias, que só vem provar que o outrora desenhador de cinematografias está aqui para as curvas.