Oremos; agradeçamos a Deus nosso senhor o facto de a consanguinidade musical não despertar malformações genéticas – assim não fosse e os Wormwood arriscariam brincar à roleta russa de uma síndrome marada capaz de lhes fazer o cérebro em papinha Miluvit.

É que este newborn project de passaporte carimbado em Boston é parente de primeiro grau aos Doomriders – o baterista Chris Bevilacqua já por lá escaqueirou o drumkit e, bem, o Chris Pupecki é só, a par do Nate Newton [Converge, Old Man Gloom], fundador. E, num bonito exemplo de quanto mais prima mais se lhe arrima, o código molecular dos Wormwood saiu direitinho – tocam forte, tocam feio e, ao contrário dos Doomriders, que parecem sempre emborrachados numa felicidade adolescente, estes rapazes metem no seu novo projecto o mesmo azedume com que David Hasselhoff enfrenta uma sexta-feira sem álcool.

E se na secreta cozinha japonesa o venenoso peixe fugu precisa de ser minuciosamente recortado para ir à mesa, ingerindo-se apenas as partes imaculadas, os Wormwood tratam o sludge no processo inverso: ficam com a peçonha e chutam borda fora o lado saudável da coisa. Sobram então os riffs de punho fechado à Kylesa pré-ácidos – até as vocalizações reverberantes nos recordam Phillip Cope – e um tangível odiozinho que nos atira ainda mais para trás no tempo; é como se andássemos ali as escavar as fossilizações dos Negative Reaction.

“Wormwood”, apesar de demasiado curto para um full-length do género [dezoito minutos, só], é um escorreito matrimónio entre osouthern abafado e o enregelado Massachussets – como se fosse possível ter os alligators de New Orleans a caminhar tranquilamente pela neve de Boston na consoada. Um bonito exercício de solo entre o sludge molengão e a postura férrea dos Winter, onde à vista salta a destreza de Pupecki para fazer da guitarra escrava nos melhores ofícios – o riff que aparece no meio de “Hollow Black Eyes” é qualquer coisa. Pena que tudo tão abruptamente acabe, deixando-nos entregues à sensação de coito interrompido. É meter gelo e esperar por mais.