Se olharmos para o que tem sido o percurso trilhado pelos Woods, verificamos uma consistência incrível, ao ponto de lançarem praticamente todos os anos um disco que funciona como “cada cavadela, cada minhoca” ou na versão mais “polvorosa”, “cada tiro, cada melro”.
A música deles é pop e enrola as vozes num algodão melodioso (não resisti a fazer uma referência a lambarices). Nesse aspeto lembram bandas como Of Montreal, Real Estate ou a perfeição harmoniosa dos Beatles – onde jovens munidos de guitarras elétricas não têm problemas em mostrar uma costela lamechas. Para além disso, há nestes Woods uma coesão instrumental e audácia que lhes permite soltarem-se, seja nos ritmos motorik, mascarados de psicadélicos no desfile Magical Mystery Tour ou a mandarem um groove fumarento à Velvet Underground.
Os Woods pegam na nostalgia da música folk, e fruto da experiência obtida nos últimos anos, conseguem gravar um disco intemporal e maduro, como se toda a fermentação dos últimos anos caísse agora no copo em formato “a melhor pinga”. Ao ouvir este “With Light…” pode-se afirmar que não envergonha clássicos como “Déjà Vu” dos Crosby, Stills, Nash & Young ou “Forever Changes” dos Love.
O rock dos Woods vem do passado para provar que o que é preciso são boas canções, bons arranjos e tipos que instrumentalmente não tenham vergonha de puxar pelas cordas, pelos teclados e pelos ritmos. Enquanto nomes como os Flaming Lips foram levados para um planeta distante por tempo indefinido, restam-nos bandas como os Grizzly Bear e os Woods para continuarem a provar que há um psicadelismo moderno que vive confortável entre a jovialidade do indie rock e a necessidade de tratamentos capilares que enfrenta hoje a música dos anos 60/70. Pequenas jam sessions cheias de energia e brilhantismo folk rock que quase pedem para se agarrar as coisas mundanas da vida e seguir estrada fora à conquista do mundo.
Tirando o tema “With Light And With Love”, que se aproxima dos 10 minutos, todas os outros cabem no formato mais modesto, mostrando que se podem fazer grandes músicas com pormenores e melodias certeiras – veja-se por exemplo o trabalho recente do Mac DeMarco.
“With Light And WithLove” não ocupa um lugar no tempo: afirma-se como intemporal e de forma descontraída garante para já o lugar na prateleira da folk psicadélica, preparando-se para reaparecer nos dias de sol e em várias listas de melhores do ano.