Dizem-nos que a competitividade é um traço essencial para o sucesso, mas também a cooperação pode produzir resultados bastante curiosos, como aquele a que assistimos a 5 de Março no Hard Club. De um lado, a sujidade da SWR com Holocausto Canibal, Exhumed e Toxic Holocaust, atraindo uma fiel legião de metaleiros para a Sala 1; do outro, a ode ao psicadelismo em mais uma parceria Amplificasom + Lovers & Lollypops, com 10 000 Russos, Monkey3 e Wooden Shjips a colorir a Sala 2. Intercalando os horários, foi ainda possível criar um pack que permitia assistir a ambos os eventos a um preço reduzido, mas a mescla de sonoridades poderá ter sido demasiado radical para a maior parte dos que se deslocaram ao espaço. Ainda assim, cada sala apresentava, por si só, argumentos de peso.

Na Sala 2, os 10 000 Russos, que este ano passaram de duo a trio, tiveram a difícil tarefa de cativar um público que ia chegando lentamente. Às 20h, a sua sonoridade que puxa pela contemplação distanciada aparenta ter sido levada de forma demasiado literal pelo público, deixando um largo espaço vazio à frente do palco. À medida que a sala enchia, a aproximação foi inevitável e o conjunto nortenho lá arrancou os primeiros abanares de cabeça e movimentos de dança da noite. Num serão em que não combinavam verdadeiramente com as restantes bandas, cumpriram o seu dever e não lhes podemos apontar grandes reprimendas.

Depois deles, já sabíamos o que esperar, mas a estreia nacional dos Monkey3 foi o ponto alto da noite. Entre o stoner e o psicadelismo, o seu sentido melódico e a atenção ao detalhe justificaram as composições mais longas, sempre acompanhadas das mais variadas projecções, desde animações futuristas até ao macaco da cena inicial de “2001: A Space Odyssey”. As influências do grunge mais pesado estavam também patentes nas rectas finais de algumas composições de “The 5th Sun”, álbum que vieram apresentar.

Após essa simpática agressividade, o concerto de Wooden Shjipsparecia, inicialmente, demasiado suave. Também eles com um novo álbum em mãos, “Back to Land”, o título do álbum não chega a esconder a influência costeira na sua música salpicada pelo surf rock californiano. Ligeiros e repetitivos, assumem-no com orgulho, e o conjunto segue-se pela bateria de um John Jeffrey completamente envolvido no ritmo, dando-nos a ilusão de que estamos a assistir a uma jam improvisada. Percebe-se o porquê de se manterem fiéis a si próprios: a sua zona de conforto não só é agradável como também hipnótica, e o público sentiu a hora de concerto a passar demasiado depressa. A banda estava a lutar contra o relógio, mas o relógio deu-se por vencido e permitiu o único encore da noite. Mais uma música, mais uma série de aplausos, e mais uma colaboração de qualidade entre as promotoras do evento.