O Porto Rio recebeu uma noite negra, por várias razões. Não foi só o negrume dos trajes e da música que predominou: avarias e problemas técnicos vão assombrar a alcateia que estava naquele barco.

Como não tinha máquina fotográfica (aposto que alguns vão ficar felizes com isso), vou colmatar essa falta com uma descrição exaustiva do espaço do concerto.

Ao entrar, com a banca com o habitual merchandising imediatamente à esquerda, avistava-se, de resto, um bar normal – à meia luz, mesas, cadeiras (demais para o que evento), pessoas aqui, ali, além e um balcão ao fundo. Só depois de me informar é que percebi que a sala de concertos não seria, claramente, aquela; as actuações seriam no andar debaixo. Qual não foi a minha surpresa quando percebi que havia mais para além daquele espaço encantador. E felizmente que assim é, porque para os Wolves in the Throne Room e para os Löbo quer-se tudo menos um espaço acolhedor.

Foi precisamente uma sensação de desconforto que me tomou ao entrar na sala de concertos, depois de descer uma escada em caracol. Com luz suficiente para apenas se distinguirem as várias e ainda poucas silhuetas que iam preenchendo o espaço, amplo, a sala parecia um barco abandonado no fundo do mar – neste caso seria do rio. Com uma disco-ball em que incidia luz apenas de um lado, parecia que os raios de sol eram filtrados pela superfície irrequieta do corpo de água que tinha tomado o transporte fluvial. Ouvia-se Black Metal e outras tantas coisas pesadas. O palco, ao fundo da sala, não passava de um estrado, mas ocupava toda a sua largura.

Assim que os Löbo entraram, por uma porta que ficava imediatamente atrás do estrado, a pequena multidão começou a aproximar-se e a terminar as conversas. Finalmente, tive a oportunidade de assistir a um concerto da banda de Setúbal com uma iluminação sombria e num espaço confinado. O ambiente fez meio concerto, o resto foi o óptimo som da sala – não quero retirar mérito aos setubalenses, mas a música deles já estava feita antes do concerto, o papel deles era tocar e mais nada. Mas há que se tirar o chapéu, já com o concerto feito (graças ao dito óptimo som e à pouca iluminação), os Löbo não se contiveram e impuseram-se à plateia: criaram um óptimo ambiente para o que se seguiu e não deixaram margem para dúvidas em relação ao que sabem fazer. O baterista e o baixista, com papéis que à partida parecem reduzidos, surpreenderam não só pela presença mas pelo que realmente acrescentam nas músicas em que aquilo que sobressai é a guitarra e as teclas; ambos muito consistentes e com pormenores deliciosos.

Os Wolves in the Throne Room não se podem vangloriar de um tratamento real, infelizmente. Com um concerto que começou como uma avalanche, em que primeiro se ouve um som distante e pouco claro, mas assim que deixam as ambiências em prol das músicas como são, simplesmente levam tudo à frente de uma forma avassaladora. Pareciam imparáveis quando o mais ridículo dos problemas os travou: avariou o amplificador de baixo. Se todos os trataram bem até então, ali a tecnologia foi madrasta com eles. Algo que vinte minutos depois estava resolvido, mas que condicionou ligeiramente, claro, toda a força com que a banda demolia os ambientes e criava mais uns tantos; foi uma interrupção totalmente desmerecida. No entanto, mal os Löbo emprestaram a parte que faltava aos americanos, estes reapoderaram-se da sala; não obstante os danos já existentes nela, montaram um trono e uivaram até ao último minuto com uma actuação que sumarizada só pode deixar boas recordações e mazelas dignas de histórias para contar aos netos.

Uma alcateia tomou conta do Porto Rio e mostrou o que é fazer boa música. Quem esteve presente soube ouvi-la com grande excelência. A Amplificasom está de parabéns por tudo: pelo espaço escolhido, pela combinação de bandas e pelo óptimo mau ambiente, que apenas ajudou grandes aos concertos.