Faz muito tempo que a SubPop deixou de ser a editora guardiã do que foi o movimento grunge. Tendo tido no seu seio  nomes míticos da denominada geração de Seattle como os Tad, as L7, os Mudhoney e, claro está, os Nirvana. Nos dias de hoje, a SubPop é uma editora bastante heterogénea, onde figuram universos musicais bastante distintos, longe da tradiçãopunk que sempre a orientou desde os seus primórdios. Lá podemos encontrar gente como Iron & Wine, praticante folk, The Postal Service, praticantes de electrónica, e bandas noise como os Wolf Eyes.

É precisamente aos Wolf Eyes a que pretendo chegar. Uma banda que lança discos em catadupas todos os anos e que neste momento é, a par de outros nomes como Sunn O)))Lightning Bolt ou Hella, tema de conversa premente dentro da chamada cena noise. O culpado desse burburinho parece ser o seu último disco, Human Animal, que tem suscitado as mais diversas reacções um pouco por todo o lado. Primeiro por estar a carregar sonoridades extremas até um pedestal perto do mainstream. Segundo pela dureza visceral e demoníaca da sua sonoridade.

Human Animal é antes de mais um álbum conceptual, onde toda ambiência está sempre suportada pela negritude da música. Um exercício com poucas variâncias e sempre explorando vectores muito próximos, demasiado próximos, por vezes quase gémeos. Faz lembrar algo que se cruza com o universo de uns Swans na sua altura deCop (1984), por desenrolar um novelo mecânico e atrofiante. No entanto essa experiência é levada para caminhos menos rock e a um limiar mais industrial e corrosivo. O nome do álbum, de resto, não podia encaixar melhor para representar exactamente o que a gravação é – um animal humano. Um metralhar de ambiências quase macabras onde existem demónios que agarram as sonoridades pelas unhas. Um sentimento de desespero permanente à espera de uma morte anunciada. É uma orquestração do apocalipse. Um chamamento às trevas mais sufocantes dos subterrâneos terrestres. Viagens de braço dado com a loucura. Paranóia pura.

Poderíamos chamar-lhe muita coisa: noisecore ou avantgard-noise, mas nada lhe assenta melhor do que ‘terrorismo noise’. Isto porque há um teste tremendo à nossa integridade, um uso de violência sonora que põe em causa uma ordem estabelecida. Por isso, cuidado! Suspeito que poucas pessoas tenham a resistência necessária para aguentar uma audição inteira à recente proposta dos Wolf Eyes. E, com certeza, serão um elite minoritária aqueles que o farão por mais que uma vez.

Human Animal é daqueles álbuns que não deixa ninguém indiferente. Ou se vai gostar ou se vai odiar. Não há meio-termo possível. Por ser demasiado animalesco, por ser demasiado grotesco. Por fazer submergir sentimentos dantescos de compreensão paranormal. Por provocar combustões químicas anormais dentro do organismo humano. Um pesadelo dentro de um pesadelo. Certamente daqueles álbuns que poderiam constar na lista de álbuns preferidos de Freddy Kruger. Para ouvidos duros de roer!