Nate Young volta à ZDB, passado sensivelmente um ano da sua última visita a solo. Desta feita, acompanhado por mais dois pares de Wolf Eyes, para uma aula intensiva de como fazer muito barulho com poucos recursos, através do recém lançado No Answer: Lower Floors na algibeira.

Que bela noite está: muitas pessoas enfeitam as esplanadas dos bares e restaurantes do Bairro Alto, pela sua rua mais turística, que irá despontar na ZDB. O tempo ameno de noite de verão está estampado nas expressões dos muitos turistas e dos poucos locais que, por certo, nos dias de hoje ainda menos consituem a típica clientela nestes estabelecimentos.

À porta da ZDB, sim, encontram-se portugueses. Não foi necessário ouvi-los falar: estão a acabar umas litrosas, compensando as pequenas e caras cervejas lá de dentro. Rodrigo Amado, que há umas semanas soprava o seu saxofone acompanhando o rapper Halloween, traz hoje a companhia do baterista Afonso Simões. Os dois protagonizaram uma sessão curta, mas bem intensa de free jazz endiabrado, perante uma plateia que, mesmo antes dos protagonistas da noite, é já algo numerosa. O baterista toca com uma ferocidade que, por norma, não lhe é reconhecida, enquanto Rodrigo Amado lança sopros insurrectos e esguios, acompanhando as guinadas de Simões.

A lua cheia hoje ilumina o habitual lúgubre e apelativo terraço da ZDB – molhar as gargantas é missão; cheirinhos de marijuana circulam na leve brisa. Não tardou até três individuos de óculos escuros irromperem em palco: Nate Young no meio de Jonh OlsonJim Baljo, o guitarrista que substitui Mike Connelly (este que, por sua vez, substituíra o membro fundador Aaron Dilloway). Os primeiros sons emergem no primeiro de muitos loops ao longo da performance, constituintes base das suas criações; repercutem-se num feedback constante e intenso, dado pela guitarra, enquanto Olson fustiga a acústica com sons, quais carrascos para os tímpanos, que trovejam do estranho utensílio por si carregado ao pescoço, afigurando-se como de possível fabrico artesanal.

O vocal seria, neste contexto, o único elemento de som orgânico. No entanto, tal não se sucede: vemo-lo com o microfone encostado à face (sabemos por certo que está a fazer barulho) e é só. O mesmo Nate Young que, por vezes, toca numa máquina, com o semblante de quem faz uma pequena correcção nos agudos ou nos graves. Porém, quando o faz, o som distorce e encavalita sobre si mesmo, ou quiçá, outra analogia semelhante; mas é sem dúvida desconcertante: avant-grade estes Wolf Eyes.

O ambiente na ZDB recomenda-se, sala bem composta e mesmo lá fora muita gente ocupa as mesas. As composições dos Wolf Eyes, em contraste com o registo mais noise fodido, incidem muitas vezes num ambiente a abeirar o free jazz, com Orson a pegar num obué e Jim Baljo quase quieto. Mas, claro, Young não resiste a dar umas suaves, contudo sonoramente estridentes, mexidas no seu aparelho.

Escusado é referir que esta rapaziada não toca propriamente cantigas: é missão complicada distinguir quais as canções ou discos em que mais incide o set-list, se é que este de facto existe. São por norma Dread e Death Hills ambos de 2002, os registos dos quais se conseguem distinguir mais apontamentos sonoros; é no entanto evocada uma panóplia de referências, proveniente de uma discogradia que ronda a centena, durante a performance. Esta que, claro está, contou com novos rabiscos de som provenientes de  No Answer: Lower Floors, nos quais foi fácil registar consensual aceitação.