Escondido durante largos anos no meio das suas fitas analógicas e o do seu trabalho de composições extraídas da supremacia minimal, William Basinski encontra-se, actualmente, a viver o período de maior reconhecimento da sua carreira, graças à redescoberta e posterior reedição das suas gravações para a concretização das The Disintegration Loops. Contudo, a sua presença em Lisboa não se dignava a uma apresentação dessa obra, mas sim à interpretação do seu novo disco, Nocturnes, a editar no próximo mês.

O novo longa-duração do texano, ao cargo de quatro anos de silêncio editorial, centrou-se na apresentação de duas peças em que os tons do piano previamente gravados se tornaram a parte central da sua actuação. Com a utilização de loops constantes e da repetição exaustiva e prolongada dos seus temas, foi o carácter hipnótico que mais se apoderou da sala. Através de poucas mudanças sonoras, os sons do piano surgiam como o ponto principal, apesar de este se ter englobado num historial de aleatoriedade, embrenhado num curto e subtil ruído, ao mesmo tempo que Basinski projectava uma suave distorção de prolongamento de todos os tons.

Tal como em toda a sua obra, a utilização de cada som é levada até ao máximo da sua execução. Curiosamente, apesar de toda a estrutura se basear na lentidão, nunca se notou que o fim podia estar próximo, ou que era para esse objectivo que se caminhava. A infinitude sonora, a longitude e a sobreposição dos seus loopstornaram-se o maior constituinte da sua actuação. E, um pouco como a lua que surgia projectada na tela, também Basinski, com pouca rotação sonora, se assemelhava a tal satélite, em que apenas as nuvens conseguiam transmitir alguma diferença e mudança a um plano estático e repetitivo.

O cinquentenário encontrou-se sempre sereno por trás do seu pc e dos leitores de fita analógica que o acompanhavam e, muitas vezes com a mão a apoiar a sua face, parecia estar, de forma imperturbável, muito distante do local onde permanecia a tocar. De facto, pareceu ser possível cada um criar o seu mundo e a sua própria caracterização da forma musical composta pela monotonia que nos apresentou.

A avaliar por aquilo que mostrou, Nocturnes estrará longe de ser um trabalho em que o piano surge puro e límpido. Pelo contrário, a sua utilização previamente gravada, baseou-se numa forma livre em que a nitidez não é um factor primordial. E, apesar de aparentar não ter a mesma eloquência de The Disintegration Loops, será injusto avaliar algo tão profundo e minimal em apenas uma oportunidade. Apreciar o seu novo registo será sempre mais fácil no conforto de um espaço próprio, em que a presença seja individual e imperturbável por movimentos e sons que não os das suas composições.