Ectoplasma no chão vertido. A culpa é dele. Apontemos para “Totem”, desumano e escabroso gancho que nos assassinou o espírito. Rancoroso, o terceiro álbum dos White Suns enfia-nos no cárcere sem termo. Sem brechas. Subjugados a uma sonoplastia embriagada no transtorno psíquico de quem há muito não comunica noutro linguarejar que não o do noise cavernal.
“Totem” é, ou poderia ser, capítulo extra no manual DSM-5. Paciente psiquiátrico incapaz de a normalidade cumprimentar: nela regurgita, nela tatua desordem, nela renega, acima de qualquer outro elemento, a melodia. “Totem” verbaliza feedback e acorrenta-nos ao suplício que é ter de suster, vaga após vaga, o inquinado oceano drone. Vários dos seus fragmentos não sai mais do que guitarra em sangue – esfolada, arranhada, entregue à úlcera anti-som. Enquanto, lá atrás, como que limitado ao papel de austero sentinela, o dono da percussão estipula sem nexo o momento em que cada chaga deve ser inaugurada.
Numa dança de sombras, o retalho “Clairvoyant” traz-nos adiante os antepassados. Elucida-nos sobre as origens. Os White Suns são eivadas ratazanas, vindos de um punk que eles só querem bubónico. O atordoante grito “Bleed It Out”, noutros parágrafos, noutras alturas, teria incendiado não um mas todos os submundos necessários. Resta-nos, fiéis palermas que não se fiam pela máxima de que hoje já nada de marcante se constrói, tentar que haja lume.