O Verão ainda vai longe e mesmo a Primavera teima em não querer chegar. Esta constatação torna eventos como este Warm-Up ainda mais apetecíveis pois trazem a ilusão de que os o calor e a época dos festivais já estão aí à porta, quando na verdade não é bem assim.

Uma das características do Festival Paredes de Coura é a aposta em nomes emergentes que, não raras vezes, têm nesse festival minhoto o seu primeiro palco português. Este Warm-Up não se pode gabar do mesmo feito mas, apesar de quase todo o cartaz já ter passado por cá (uns mais do que outros), é impossível resistir à oportunidade de reviver, ainda que de forma disfarçada, uma das melhores semanas do ano.

Capitão Fausto

Eram 8h30 em ponto quando os Capitão Fausto subiram ao palco Ainda era cedo e a tenda estava pouco povoada. Como consequência o ambiente estava frio , mas o quinteto lisboeta não se deixou intimidar. Ao longo do concerto a banda de Teresa (o tema de sucesso que não se fez ouvir) conseguiu aquecer o público e, mais para o final, os ânimos já estavam bem acesos e o recinto bem mais composto.

Há quem diga que “ao vivo é sempre melhor”. É mentira pois nem sempre assim é, mas com os Capitão Fausto pode afirmar-se isso com toda a segurança. No palco há menos ênfase nos refrões orelhudos e em melodias algo desinspiradas. Os instrumentais são alargados e há mais liberdade. Há flirts e piscares de olhos a psicadelismo e isso resulta em temas mais poderosos embora a voz de Tomás Wallenstein insista, quase sempre, em tirar força às malhas da banda.

Veronica Falls

Bem menos entusiasmantes foram os Veronica Falls e a sua indie sonhadora. Desde que passaram pelo Porto pela última vez, no Primavera Sound do ano passado, os britânicos lançaram mais um disco, mas continuam sem causar grande mossa no panorama musical. É rock, são refrões, é calor e verão mas não é entusiasmo. Junto ao palco havia alguma animação, mas mais cá par trás era notório o aborrecimento do público perante um concerto francamente enfadonho. A temperatura voltou a descer no Porto.

The Wedding Present

Era então vez de uns veteranos mostrarem à malta nova como se faz. Duas guitarras, baixo e bateria. É nesta a formação clássica que os Wedding Present se apresentam ao público de Coura (ou devo dizer do Porto?). As canções também essas são directas e livres de artifícios. Sem merdas, o quarteto de Leeds percorreu a sua carreira e fiz alguns dos mais velhos reviver momentos do passado.

Os The Wedding Present dividiram a sua carreira em dois períodos – o final dos 80s e os dias de hoje. Embora só David Gedge seja membro fundador da banda, este quarteto, já nos longínquos 80s, era mais conhecido pelas suas actuações ao vivo do que pelos seus discos. A avaliar pela média de idades do público, não seriam muitos os conhecedores deste facto, mas, depois do concerto, poucos deverão ter ficado com dúvidas acerca da sua veracidade. A fama é merecida.

Everything Everything

A doçura contemporânea dos temas de Evertything Everything foi o assunto que se seguiu. A maleabilidade do falsete de Jonathan Higgs  e o poder dos coros e o limbo entre guitarras e sintetizadores foram as maiores marcas que levaram osEverything Everything para a ribalta em 2012, altura do lançamento do seu segundo disco.

Tal como em Arc, a mixórdia de ideias tomou conta do palco do festival, e em boa verdade, logo provocou o primeiro momento de apoteose. Cough Cough, malha maior do seu disco, gerou sorrisos e potenciou o bater do pé e o abanar da anca. A fasquia estava elevada e o momento mais esperado foi entregue de bandeja. Sem a apoteose inicial, os Everything Everything seguiram um caminho que alternou algum punhado de boas canções com momentos de menor fulgor. Nada de profundamente condenável, numa banda que possivelmente está em busca de se compreender melhor. O seu synthpop/synthrock tem os seus encantos, e faixas como Kemosabe ou Schoolin provam essa ideia. São contagiantes, possuem o seu génio e deixam boa disposição em quem ouve.

No Age

O que se passou a seguir obedece ao raciocínio inverso. Nada de profundamente meticuloso e cuidado poderá ser relevado, mas quando há riffs de guitarra e energia aos pontapés, o ambiente aquece, o público agita-se e o crowsurfing aparece. Os norte-americanos No Age sempre tiveram o condão de provocar terramotos em salas de concertos deste mundo. No Porto não foi diferente.

O importante é a atitude e o peito feito. O seu estilo é um bocado indefinível, mas na obrigação de o retratar, o que se passou foi um misto de noise rock/punk/ shoegaze. O carácter mais visceral deGlitter ou a urgência e o carácter sónico de Fever Dreamingmarcaram tendências, numa viagem a 2010 e ao seu Everything In Between. Tocaram muitas canções novas, mas é no conforto do velho reportório que, de facto, incendiaram a tenda . RandySpunt são uma dupla despretensiosa que oferece entusiasmo a um final de noite regado a cerveja e com o suor a jorrar dos poros. São estes finais de noite frenéticos que sempre valem a pena.