Aos Voïvod já ninguém lhes tira o facto de serem uma banda histórica e lendária. Contudo, Target Earth assumiu um carácter ainda mais relevante pelo facto de ter sido escrito na sua totalidade sem o elemento fundador Piggy. A verdade é que pouco tinham a provar e o seu legado serve como testemunha e, com o novo disco, foram capazes não só de evidenciar que são um grupo de exímios compositores, mas também que se encontram fora do seu tempo.
São muitas as bandas às quais se atribui valor e singularidade por se basearem em algo já testado no passado e lhe darem o seu próprio cunho. Com os canadianos passa-se algo semelhante, mas com uma diferença primordial: o novo longa-duração faz com que sejam eles a estabelecer as bases para o futuro e a constituírem algo que se encontra claramente distanciado dos dias de hoje. Não terá, decerto, sido assim, mas surge a sensação que o quarteto se juntou num estúdio, qual grupo de visionários, para gravarem e escreverem algo que poderá definir uma era, mas não esta. Target Earth surge como um álbum difícil de compreender nos dias de hoje e isso é virtuosismo puro.
Acima de tudo, nota-se que os Voivod não se sentiram na obrigatoriedade de repetir constantemente a fórmula criada. Estão cada vez mais distanciados da trashalada que marcou o seu início com War and Pain e Rrröööaaarrr e também muito mais interessantes que nos últimos anos. A pergunta que se poderá colocar é se isso teria sido possível sem Chewy, o substituto do falecido Piggy. Porventura não. As suas composições são o elo e a grande força de Target Earth.
Apesar da importância de Chewy e das suas linhas de guitarra, seria injusto não valorizar o trabalho de voz de Snake, que parece nem se esforçar muito para conseguir este timbre cansado e soletrador de cada sílaba com uma vigorosa confiança (como se revela em temas como Empathy for the Enemy ou mesmoWarchaic). E o que dizer da bateria e do baixo de Away e Blacky? Bom, esses já eram uma constante no primor. Apesar disso, mostraram que, sem os seus incrementos, todo este contexto não seria tão notável.
O décimo terceiro álbum de estúdio tem aquilo que qualquer um sente um prazer imenso ao ouvir, ou seja, um requinte de novos desafios e contínuas mudanças de ritmo dentro dos temas. Logo com a faixa título se sente que daqui só virá uma recorrente progressão e contornos que, de similares, nada têm.
Tantas vezes, durante a audição de determinado disco, sentimos que aquele conjunto de canções será objecto de uma escuta incessante no futuro e que aquele poderá ser um registo intemporal. Com os Voivod este paradigma parece ter sido levado num contexto mais avantajado e será um enorme prazer continuar ao longo dos tempos a assimilar tudo aquilo que nos trouxeram com Target Earth.