Aquando da conversa que tivemos com eles, os Vaee Solis disseram sobre que o que fazem “em em termos sonoros não é assim tão arrojado”. Fora do contexto de “Adversarial Light” dá a entender que o que a banda faz se pode facilmente enquadrar dentro de um género específico. Não que haja algo de errado nisso, mas não é bem isso que se passa aqui: os ingredientes usados são conhecidos, já a receita que lhes é dada é uma história diferente.
A guitarra é orientada maioritariamente por um black metal de escola sueca, mas desenvolve-se num ambiente muito mais lento e arrastado, transformando assim o resultado numa espécie de blackened doom, denotando-se ainda cadências próximas daquele sludge bruto de bandas como Grief. Essa vertente vem ao de cima sobretudo em “Ennoia” e “Feral Isolation” (com berros a cargo dePedro Roque), sem no entanto alguma vez ser abandonada a atmosfera ritualista que é transversal ao álbum.
Manifesta também nos momentos mais catárticos como o final de “Cosmocrat” ou a segunda metade de “♎”, a tal propensão pelo ritual em vez da explosão descreve perfeitamente a ligação entre o instrumental e a abordagem vocal de Sophia, que poderá surpreender quem está esperar encontrar aqui um registo semelhante ao que emprega noutros projectos. No departamento vocal, destaque ainda para o frenesim protagonizado pela vocalista no tal crescendo de “♎” e para os poucos mas bem encaixados berros do baixista J. Galrito.
Para além de “Adversarial Light” já ser um disco não só bem escrito como bem capturado e só por si já justificar repetidas audições, a estreia de Vaee Solis parece mostrar a banda portuguesa apostada em criar algo próprio tendo os géneros acima referidos como ponto de partida. A julgar pelo primeiro passo, será história para seguir com atenção.