A proposta dos True Widow não é de perder a cabeça. Mas já há algum tempo que não se arrastavam notas com a sensualidade do trio norte-americano e isso não se prende só com a voz de Nicole Estill. Ajuda ter uma mulher, sussurrante, a cantar-nos ao ouvido, mas o que torna As High As the Highest Heavens and From the Center to the Circumference of the Earth num álbum irresistível é a aliança entre o groove do stoner e a instrospecção do shoegaze.

Claro, não é constante. Há vezes, como em Night Witches, em que os texanos não conseguem evitar ser apressados, dado, pelo menos, o seu ritmo normal de desenvolvimento. Mas são essas malhas a correr que nos recordam da beleza cambaleante que o jogo entre o baixo distorcido e grave e a guitarra em quase-dissonância dão à música dos True Widow. E há que admirar, ainda, a claridade com que tudo acontece neste álbum, sem grandes segredos, num contraste perfeito entre o espaço soturno e decadente que nos descrevem os fuzzes da banda, curiosamente limpo de fumos.

Os True Widow deixam saudades do tempo em que se fazia rock bom; é quase impossível não citar os Black Rebel Motorcycle Club e perguntar “o que raio aconteceu ao meu rock ‘n roll?” É certo que os texanos fazem o que falta os BRMC. Há que perguntar o que é que aconteceu aos bons motards indies.

Não sei, sinceramente, como é assistir a um strip à distância, e absorver a languidez da performance através da ebriedade, mas estou certo de que ouvir As High As the Highest Heavens and From the Center to the Circumference of the Earth se aproxima imenso dessa sensação. Fica a sugestão para uma noite de deboche mais calma do que as demais.