Antes da análise a “Melana Chasmata”, recorde-se que Thomas Gabriel Fischer (mais conhecido por Tom G. Warrior) tem por esta altura 50 anos. Bem longe vão os tempos dos Hellhammer e igualmente idos vão os Celtic Frost, com quem teve uma influência ímpar na música extrema, muito para além das fronteiras do black metal – género em cuja génese estivera com os seusHellhammer. Tem portanto um dos mais justificadamente admirados currículos no meio em que se move e continuaria a tê-lo mesmo que os Triptykon não estivessem à altura do que lhes precede. Só que há quatro anos o novo projecto estreou-se com o portento de raiva pelo nome de “Eparistera Daimones” e o seu sucessor é tudo menos irrelevante ou parco em motivos de interesse. Absolutamente brilhante é aliás mais apropriada caracterização.
O manter da sonoridade pautada pela mistura de doom, black e até death metal ou o ocasional gótico que já caracterizava “Monotheist” e “Eparistera”, induz assim um cenário de coerência estética quase inédito na carreira do suíço – o que felizmente não é sinónimo de repetição. Já o incremento de raiva no seu antecessor o diferenciava da derradeira obra dos Celtic Frost e o mesmo ocorre com “Melana Chasmata” e a sua densa e caleidoscópica bruma. À escrita ainda mais focada não será alheia a química aparente entre o resto da banda e o seu mentor.
V. Santura é indissociável do som obtido, assinando a mistura, dividindo produção e guitarras com Warrior, e ainda acompanhando-o nas vozes – destacando-se por exemplo no trio de “Boleskine House”, completado pela habitual S. VollenWeider. A secção rítmica, com N. Lonhard na bateria e V. Šlajh no baixo, tanto se revela exímia nos mais lentos destilares de treva (“Altar Of Deceit”), como distribuí porrada como deve ser (“Breathing”). Finalmente, a capa é assinada pelo mestre suiço H.R. Giger, tendo a notícia da sua trágica morte chegado aquando da redação deste texto e ensombrado ainda mais a audição de “Melana Chasmata”.
Efígie mais apropriada para o título, qualquer coisa como “abismos negros”, do que o composto e apresentado pelos Triptykon seria complicado. Não há momentos de desinspiração nem músicas redundantes; a única constante é mesmo a atmosfera presente, ainda que a sua forma nunca estanque. À colecção habitual de riffs, ughs e excelência geral juntam-se pormenores geniais um pouco por todo o disco, do delicioso segundo solo de “Tree Of Suffocating Souls” (com esta gente os discos começam sempre à tareia) aos distintos e igualmente brilhantes mantras: “A spirit wasting away” da melancólica “Aurorae” – o solo final captura o sentimento do tema de forma soberba – e “Emily” de “In The Sleep Of Death”, em cuja repetição Tom G. Warrior evoca tanto uma frágil resignação como explode numa raiva característica.
O silencioso término é também ele atingido de forma brilhante, partindo da monstruosidade que é “Black Snow” para a subtileza de “Waiting”, que nos guia então por um limbo, entre a beleza da voz de A. A. Gristle e a melódica guitarra, e o ominoso fundo criado por Warrior e companhia: a catarse no contemplar da morte é assumidamente humana. No final, fica um silêncio que custa interromper, consequência de um álbum tão próximo da perfeição quanto somos capazes de imaginar.