O TRIPS de Abril recheou-nos de boas memórias e este terceiro e último dia parece tê-lo retomado onde os Endless Boogie o deixaram: riffs longos, voz como adereço e rock a puxar pela dança. Os The Cosmic Dead foram os responsáveis pelo início da noite e, embora se assumam fãs incondicionais de space rock e particularmente de Hawkwind, exsudavam uma alegria pouco habitual para esse género, habitualmente mais lento e relaxado. Conhecedores do seu próprio universo, os escoceses firmaram a sua actuação num debitar planeado de energia, estrategicamente distribuída ao longo de mais de uma hora de actuação, sempre ao sabor da firme – ainda que frenética – união entre baixo e bateria. O concerto poderia ser, mesmo, representado graficamente como uma curva de sino, havendo um pico de vigor algures entre o início com feedbacks e o abrandamento gradual na recta final do concerto. Foi um muito bom início para o último evento Amplificasom + Lovers & Lollypops do ano.
Seguiram-se uns Camera já conhecidos pelos portugueses devido ao Milhões de Festa, no qual se apresentaram como uma agradável surpresa. O concerto do TRIPS seguiu o mesmo estilo pautado pelo minimalismo de uma bateria reduzida ao essencial, acompanhada pela simplicidade da guitarra complementada por um sintetizador atmosférico. Krautrock inequívoco, inseparáveis domotorik, os Camera procuram perpetuar um género moribundo e quase, injustamente, esquecido, dando o fôlego final aos concertos na sala Palco. A viagem psicadélica foi oferecida pelo ritmo de um incansável percussionista a preencher a vaga na bateria, que cria a estrutura base para o ritmo da guitarra e para a textura dos sintetizadores. A quebra do estado ébrio da performance dos berlinenses sentiu-se mais abruptamente do que no caso de Cosmic Dead, que não hesitariam em subir ao palco para dar um último empurrão no sentido de matar o concerto, naquilo que acabou por ser uma colaboração instantânea curiosa (mais do que bem conseguida, admita-se).
Embora bastante gente tenha chegado ao Plano B após esse concerto, notava-se que a maior parte das pessoas que já lá estavam tinha ido ao TRIPS para ver as duas bandas mencionadas, e havia uma certa indecisão no ar entre ficar forçadamente no local ou perder o resto do evento. Eric Copeland
não só não conseguiu captar a maior parte do público àquela hora tardia (o seu set viria a acabar bem depois das 2h), como teve ainda de competir com o DJ set da Lovers & Lollypops Soundsystem que, entretanto, começaria na sala ao lado. Esboçaram-se, contudo, alguns esforços de dança através de batidas sampladas e de camadas arquitectadas com a minúcia de quem já faz música de club há muitos anos.
Al Lover exibiu uma sonoridade bem mais upbeat e menos hipnótica, mas poucos se mantinham lá pela música, sendo o TRIPS pós-Camera uma espécie de evento social com música de fundo, um pequeno convívio entre pessoas e bandas ligadas pela Lovers & Lollypops e pela Amplificasom. As promotoras são certamente reconhecidas pelas apostas arriscadas, mas seria impossível estar sempre em sintonia com o público. Este queria mais bandas, e tanto o live de Copeland como o set de Al Lovermereciam uma audiência mais embriagada pelo álcool do que pelo kraut.