As colaborações entre Amplificasom e Lovers & Lollypops são demasiado extensas para listar, mas dificilmente encontramos uma que não tenha correspondido às nossas expectativas. Este primeiro dia do Trips não foge à regra, com um cartaz demasiado irresistível para ser ignorado. Entre dois concertos no Plano B e um no Café au Lait, lamentam-se apenas as salas a meio gás.
Process of Guilt
Começámos a noite pouco depois das 21h, com os Process of Guilt a abrir o festival. Há muito a dizer sobre a banda, mas seria quase tudo uma repetição do que foi já constatado anteriormente: sabemos que a estrada lhes faz bem (vimo-los regressados de uma tour europeia no Amplifest 2012), que FÆMIN é o magnum opus do conjunto, e que estão neste momento no auge da sua carreira, tendo ainda no fim-de-semana passado tocado no mítico Roadburn. A sala foi-se enchendo durante as primeiras notas deEmpire e momentos depois já a banda provava que regressou a Portugal com a mesma energia com que partiu para a tour europeia em inícios de Abril. Foi, aliás, uma corda de guitarra que cedeu a meio do concerto – as cordas vocais de Hugo Santos mantiveram-se imponentes como sempre. Caso este tenha sido o concerto de encerramento da apresentação de FÆMIN, mereciam casa cheia para terminarem com chave de ouro.
Torto
Os portuenses Torto são a banda mais jovem do cartaz, embora já toquem juntos há uns anos e não lhes falte experiência de palco devido a todos os projectos que integraram. Jorge Coelho, Jorge Queijo e Miguel Ramos apresentam-se aqui como um trio instrumental cujas comparações a Tortoise são difíceis de evitar, tanto pelo nome como pela música. Jorge Coelho não entra em grandes divagações, tocando as notas e os acordes necessários sempre complementado pelo baixo, ficando assim a bateria com total liberdade para preencher o espaço deixado pela ausência de uma voz (e que bem que o faz). As constantes mudanças de afinação quebraram um pouco o ritmo do concerto, mas o que se sucedeu a cada uma delas compensou e deixou-nos expectantes em relação ao álbum de estreia e à música de 16 minutos que, segundo os próprios, será lançada ainda esta semana.
Nü Sensae
É sobre a premissa de nos impressionarem com o seu punk veloz, que os Nü Sensae se apresentaram no Plano B para o último concerto da noite. Swim dá o mote para um ruidoso directo. O trio de Vancouver usa o palco como campo de batalha. A sua música é um autêntico rolo-compressor em que a furiosa guitarra de Brody McKnight disfere ondas sónicas que soam com estridência nos nossos ouvidos. O álbum Sundowning, de 2012, é a base do concerto. Ao vivo, ganha uma nova dimensão, e exponencia as qualidades da banda. A voz de Andrea Lukic lança um motim em formato concerto, e fica minuciosamente coordenada com o ritmo da bateria de Daniel Pitout – que conhece como a palma da sua mão. O tom é sempre de catarse, duro e poderoso, surgindo em temas como 100 Shades, ou I’m a Body do anterior TV, Death and the Devil. Surgem então Burnt Masks e Spit Gifting , canções em que os riffs de Brody explodem quando chocam com a candência da bateria de Pitout. Em Tea Swamp Rule, numa ousada experiência, Pitout e Andrea decidem trocar de instrumentos.Andrea assume o ritmo de bateria enquanto Pitout dedilha o baixo. A melodia quase fúnebre não fascina e logo voltam aos seus lugares originais, onde o seu som revela outra consistência.Whispering Rule, canção de génese tribal, é a prova da variada palete sonora de Sundowning, álbum onde se consegue encontrar desde rock furtivo a estilhaços de shoegaze. O concerto prossegue com mais um punhado de canções menos conhecidas, que se iniciam com Total Drift. Muitas delas, alguns furos abaixo do melhor que se viu no inicio do concerto. Talvez por isso, o público reage com alguma indiferença ao encore e às palavras de Andrea. Só assim se consegue justificar a quase total inépcia que se viu na plateia, quando os ritmos justificavam o mosh e o descontrolo. Apesar de toda a intensidade que a música dos Nü Sensae arepresenta, essa força não passou para o público criando uma irremediável e disfuncional sensação de angústia a todos os que se mantiveram até à noite de concertos findar.
Hoje, 30 de Abril, o festival continua. Haverá espaço para os psicadélicos Endless Boogie, o drone do guitarrista Tom Carter e o stoner-rock dos portugueses Black Bombaim, regressados duma prolífica experiência no prestigiado festival Roadburn. Vemo-nos por lá.