Os Trash Talk são únicos. Para além de ao vivo conseguirem fazer mais estragos do que o furacão Sandy (procurem bem pelo youtube e certamente encontrarão a banda a actuar em salas de jantar ou em lojas de discos onde acabam a fazer stagedives nas prateleiras), hoje em dia nem engenheiro de som têm. Tornaram-se auto-suficientes. Qual é o espanto? O espanto é que em 2008 trabalharam só com um tal de Steve Albini; mas, pelos vistos, nem de um grão-mestre precisam. A juntar a estes inauditos factos, tomaram a decisão, em Maio, de assinar pela major Odd Future Records. Sim, essa, a editora do Tyler, The Creator e restante crew Radical.

Os norte-americanos estão, então, bem longe de serem convencionais. Começaram em 2007 por tomar de assalto a cena hardcore com um Walking Disease carregado a powerviolence e thrashcore, bem ao estilo dos Ceremony (que, por sinal, hoje em dia também já se deixaram disso), para logo se afirmarem com um self-titled (o tal produzido por Albini) onde já deitavam um olho a riffs bem sludgy e a passagens cavernosas. De 2008 para cá, osTrash Talk têm mudado progressivamente a sua postura e 119 é a confirmação de que não só estão mais vagarosos, como perderam agora ímpeto e efeito surpresa.

O disco até pode ser a capicua de 911, porém, ao invés dos seus primeiros registos, o novo álbum não incita descaradamente ao tumulto. Após os vinte e dois minutos de duração, provavelmente não necessitaremos de chamar o INEM. É que os Trash Talk estão bem menos caóticos e até se tornam aborrecidos em alguns momentos. Certo, continuam agressivos, mas os riffs não são memoráveis, a produção está rudimentar, o vocalista Lee Spielman parece sem fulgor e de verdadeiro realce só temos a participação de Tyler, The Creator e Hodgy Beats em Blossom & Burn. Um feat. que acaba por ter um agridoce sabor: sim, é curioso assistir à integração do rap na malha mais sludge de todo o disco, mas o resultado também não é assim tão especial quanto isso, acabando por traduzir bem o espírito geral do álbum: desinspirado.

Os Trash Talk atravessam mais uma fase metamórfica na sua carreira e a junção aos seus amigos da Odd Future é a prova elementar – 119 poderá ser, por consequência, também ele um disco de transição e uma procura de novas fronteiras musicais. Mas, se esta era a tentativa de cravarem posição para o que aí vem, então garantiram pouco mais do que o instalar da dúvida sobre o seu futuro.