Muitos julgariam que o enorme legado construído não só pelo screamo do virar do milénio (Orchid, Envy ou Pg.99), mas também pelo hardcore melódico do início da década (American Nightmare ou Modern Life Is War) estaria irremediavelmente perdido com o avançar do tempo. Porém, sem combinação prévia, nos últimos cinco anos vários foram os grupos que, nesses nichos inspirados, recatapultaram a melodia e uniram-na à agressiva angst do género.
Apelidou-se o movimento de The Wave e, dentro dele, tanto os Touché Amoré quanto os Pianos Become The Teeth são nomes cimeiros. Daí que um split composto por ambas se torne uma apetitosa forma de abrir 2013, ainda para mais quando se prevêem novos álbuns dos dois projectos já este ano.
O registo inicia com Hiding, tema que percorre o trilho aberto pelo excelente The Lack Long After – com reminiscências da abordagem à Brand New e com uma clara aposta no lado mais contemplativo, em detrimento da velocidade. A estrela volta a ser o vocalista Kyle Durfey, que, um pouco à semelhança de I’ll Get By, outro tema dos PBTT, entrega uma prestação cheia de alma e capaz de romper com a sua própria zona de conforto. Cinco minutos do melhor que os norte-americanos são capazes de oferecer, com um crescendo extremamente bem trabalhado e harmonioso.
Já os Touché Amoré surpreenderam. Apesar de ser uma malha frequente nas suas prestações ao vivo – e que bem que soou em Novembro passado, na londrina Koko -, não é todos os dias que os encontramos a compor em estúdio temas de quatro minutos. E, ao contrário dos Pianos Become The Teeth, a banda onde Jeremy Bolm berra com uma entrega irrepreensível abre Gravity, Metaphorically com a sua rapidez típica, para culminar numa emocional e contemplativa explosão, onde Bolm vocifera “At least I tried, it was the first time, in a long time, that I felt alive”. Talvez esteja aberta a porta para que os Touché Amoré alinhavem músicas mais extensas e mais norteadas para o mid-tempo.
Venham os álbuns.