“Talvez esteja aberta a porta para que os Touché Amoréalinhavem músicas mais extensas e mais norteadas para o mid-tempo”, profetizou o PA’ aquando do split com os Pianos Become The Teeth, que abriu o ano civil. Homenageando Bandarra, trovámos bem: “Is Survived By” expõem genuinamente o talento dos californianos; a perícia e a jurisdição na hora de compor –songwriting, portanto.
Quem, como nós, regozijou com a sanguinolenta emoção de “…To The Beat Of A Dead Horse»” ou a ansiosa fúria de “Parting The Sea Between Brightness And Me”, desprende um franco sorriso ao absorver o quão intricado o jogo de guitarras se tornou. Como se aquela vaga emo/indie 90s, onde os Mineral davam luta à solidão do midwest e os Sunny Day Real Estate vertiam melancolia no seu «Diary» naïf, encontrasse no frenesim screamo – o dos Saetia, dos Orchid da amarela t-shirt e dos tipos apaixonados por uma aparição – o irmão que jamais teve. Os Touché Amoré, ao terceiro disco (esperavam lá eles chegar ao número três), estão além das vísceras e do cuspe que o vocalista Bolm deixa fugir a cada grito. Há argúcia, há crânio.
Não que “Nine”, do debute, não fosse sublime na sua veemênciapunkish, sem paciência para ver a big picture. Mas escutá-los em “To Write Content” é saborear maturidade de estúdio, de quem trabalha as seis cordas com uma subtileza melódica capaz de embaraçar muitos súbditos do post-rock. De quem agora entende que o cume não fascina sem um contemplativo vale – a inclusão de tempos lentos faz reluzir as guinadas-relâmpago de Elliot Babin, baterista. “Anyone / Anything” brinca ao build-up, mas executa-o sem direito a reprimenda, onde Jeremy brada “I don’t owe anyone, I don’t owe anything, so stop expecting everything from me. You don’t owe me a thing, I’m just trying to be, so just stop answering for me”.
Lá está: a destreza criativa que avalizou o nascimento de uma emotiva malhona como “Harbor” – a sério, que temazo! – não implica que o seu frontman tenha descoberto o nibbana, a contra-senha ideal para a paz interior. As dúvidas existenciais, transcritas numa veia poética que, a tempos, roça o cheesy, permanecem. Seja o reconhecimento de que há muito do seu pai nas suas atitudes, seja a sinceridade na resposta a Andy Hull, vocalista dosManchester Orchestra, quando este lhe perguntou como aprimorar o songwriting do seu grupo – espreitem a letra de “To Write A Content”, vale a pena. Jeremy Bolm assimilou que a purgação em palco e em disco, para lá dos ferimentos de alma, lhe traz conforto e um bonito retorno. O verso de “Social Caterpillar”, quiçá a faixa-imperatriz, diz tudo: “Don’t worry, I still get dizzy in the usual situations. But it’s those instances I have used to ground me on occasion”.
Vimo-los crescer. Os Touché Amoré, libertos das constrições de rótulo, evolveram para uma distinta entidade musical. “Is Survived By” é o salvo-conduto para outros voos, outras audiências.