O indício a descoberto ficou assim que aos quatro ventos foi anunciado o primeiro single extraído de Oddfellows – com Stone Letter, disseram ao mundo que não estavam dispostos a seguir pelos primitivos trilhos de Anonymous, preferindo regressar à sua zona de conforto. Que tão desconfortável é para outros.
Aquilo que para os Tomahawk se traduz em rock directo e sem artifícios, para tantos é um quebra-cabeças rítmico e criativo. Não surpreende; os infindáveis projectos por onde Mike Patton e Duane Denison se infiltram têm, na sua maioria, um fio condutor: o noise rock e o experimentalismo, traços característicos da Ipecac, editora fundada pelo vocalista dos Faith No More. NesteOddfellows encontramos precisamente esses predicados.
Escrito em óbvio tom de diversão, o quarto disco dos Tomahawk desdobra-se num numeroso leque de heterónimos estilísticos. Capaz de alinhavar, com a mesma eficácia, um sensaborão rock alternativo na tal Stone Letter e uma intricadamente sombria I Can Almost See Them, o denominado supergrupo não tem emOddfellows um álbum uniforme. Não se vislumbra o menor intento de grudar faixa a faixa, deixando que cada tema traga ao palanque uma distinta característica. Se colocarmos este disco em perspectiva com a restante biografia dos norte-americanos, talvez tenhamos aqui o trabalho mais multi-facetado desde o debutante homónimo – bastar-nos-á escutar A Thousand Eyes para nos recordarmos dos singulares riffs de Flashback e Rise Up Dirty Waters para voltarmos a sentir a furtiva atmosfera de Sir Yes Sir.
É aliás em Rise Up Dirty Waters que nos apercebemos em definitivo da presença de Trevor Dunn (ex-Mr. Bungle), através de uma brilhante linha de baixo. Justiça seja feita, no entanto: a diferença entre ele e Kevin Rutmanis não é tão significativa quanto à partida se poderia imaginar, se em conta tivermos a genialidade rítmica dos Bungle e o excelente trabalho do antigo baixista dos Tomahawk. Quanto a Mike Patton, também ele volta a desfilar envergando o uniforme do costume, quando o trabalho sujo passa pelo rock: variando entre sussurrantes versos e explosivos refrões, o “Sr. Que Tudo Faz” oferece, durante os quarenta minutos do registo, mais uma elevada exibição vocal, onde volta a não dispensar efeitos e uma escrita sugestiva: “You rub me so wrong. Please keep your clothes on. You rub me so wrong with your south paw.”, escuta-se em South Paw.
Com Oddfellows reencontramos, então, uns Tomahawk descomprometidos e, em simultâneo, distantes da genialidade celebrada em distantes alturas – não há aqui nada que se equipare sequer a uma Birdsong ou a uma Harelip do Mit Gas; mas há sólidas e eficazes composições de um rock que, mesmo funcionando a velocidade cruzeiro, deixa outros envoltos em golfadas de poeira.