Tom Waits sempre foi um daqueles artistas singelos que conduzem o seu percurso musical de uma forma que foge, claramente, aos parâmetros preconizados como os mais normais, continuando a ser curiosa a forma extemporânea como entra e sai de cena. Contudo, este corrupio não se aplica aos seus álbuns que perduram no tempo e que são lembrados constantemente.
Bad As Me constitui mais um nessa categoria de discos. Um trabalho intemporal, que percorre não só as premissas do passado – submetendo-o a uma visão contemporânea -, mas que deixa, evidentemente, um legado de futuro, tratando-se, então, de uma obra que será escutada daqui a uns anos com o mesmo estímulo de espanto e actualidade.
Este aguardado longa-duração é uma mescla de sensações e imagens, tornando-se incrível a forma como muitas canções conseguem remeter para percepções tão claras daquilo que pretendem transmitir. Oiça-se Chicago, em que surge, automaticamente, com o ritmo da canção, a sensação de que estamos a ser subjugados a um porto marítimo, em constante movimento. Não é fácil imaginar que Tom Waits será o marinheiro que nos levará a locais longínquos? De facto, o convite para o embarque emerge no final dessa faixa, sendo peremptório assimilar o som e adoptar o californiano como o mentor da descoberta de novos caminhos através dos seus temas.
Bad As Me cria, portanto, esta imagética de disco movimentado, expansivo, mas também corrosivo. Com este regresso, cinco anos depois de Orphans: Brawlers, Bawlers & Bastards, mantem-se uma característica primordial nos seus trabalhos, em que a rudeza da voz e o âmbito enfurecido estão presentes como componente principal. O mais recente registo de Waits é, por isso, marcardo pela sua voz áspera, que serve de posto de comando para as léguas de disco que, tema após tema, nos vão sendo oferecidas.
Se for necessário aguardar, novamente, tantos anos para ter novos temas de Tom Waits com a qualidade patente neste disco, será com prazer que essa espera será enlevada.