Steve Austin é uma das criaturas mais subvalorizadas do metal. Ele pouco se importa. Ao longo das últimas duas décadas, o norte-americano tem criado obras marcadamente ousadas e capazes de romper com qualquer que seja o cânone. Aquilo que conseguiu com os Today Is The Day desde 1993 tem um inestimável valor, e serve como prova de que os géneros e subgéneros são, também eles, comunidades imaginadas, qual nação ou bandeira.

Para facilitar, chamam-lhe noise, já que os Today Is The Daynunca se orientaram pela melodia. Os ritmos são desconcertantes e fazem do comum ouvinte passageiro desconfortável, com os gritos distorcidos do condutor a tornarem a viagem ainda mais aflitiva. Nunca é de fácil degustação a tarefa de ouvir um disco da banda de Nashville. Em 2011, a fogueira para onde são lançadas as várias almas do conturbado Steve Austin voltou a ser ateada para Pain Is A Warning, disco que contou com a mãozinha de Kurt Ballou na produção.

Querem saber porque Remission, álbum de estreia dos Mastodon, é tão áspero e contundente? Ouçam Expectations Exceed Reality, primeira faixa desta nova edificação dos Today Is The Day. A lavagem cerebral a que Bill Kelliher e Brann Dailor tiveram direito quando integraram as gravações de In The Eyes of God, está bem clarificada nos minutos inaugurais de Pain Is A Warning, reforçada com Death Curse, faixa típica de Austin. Depois desta retumbante introdução, os poros de TITD dão início a uma convulsa sangria.

Uma sangria que, desta vez, se apresenta com uma vestimenta diferente. O nono álbum da banda parece ter uma maior componente industrial e post-hardcore, com algo que recorda a demência de Trent Reznor em Broken, misturada com a selvática abordagem rítmica de Page Hamilton e os seus Helmet. Os riffs são simples, mas de uma lancinante precisão, e a postura mais rock-ortodoxa em faixas como Wheelin’ e The Devil’s Blood nem por isso retira a desordem psíquica que é trademark de Steve Austin. Remember To Forget e This Is You revelam um lado mais tranquilo e laid back, com a última a soar até como se tivesse sido retirada dos gloriosos anos do grunge, tal a simplicidade.

Mudanças que fazem de Pain Is A Warning um disco surpreendente e pouco óbvio, apanhando de surpresa muitos daqueles que já tinham como dado adquirido o que aí vinha – não, afinal, este não é só mais um disco caótico de Today Is The Day. É refrescante e é mais um twist da twisted mind que é Steve Austin.