Como tantas vezes acontece, os projectos de associação de vários músicos, acarretam um interesse redobrado quando constatamos que as origens são díspares. A essência dos Timespine deriva desse factor, reconhecendo-se que os três músicos teriam tantos pontos de contacto como de desarticulação. Por isso, o desafio seria imaginar como o blues de Tó Trips ou a pop baixista de John Klima, resultariam associados à maior experimentação electrónica de Adriana Sá.
A grande virtude do trio permaneceu no sucumbir da ambientalidade das peças ao dobro de Trips e ao baixo solene e sóbrio de Klima. No fundo, acabou por transparecer que cada instante permitiu uma maior exposição de cada instrumento. Ora as cordas, ora a massa de estruturas de Adriana, transmitiam a ideia que o brilho provinha muitas vezes do apontamento solitário que cada um conseguia conferir. Mas, apesar de por vezes ter parecido que seria o zither e o arco a coordenar e a veicular o espaço próprio para cada um se exprimir, não se pense que o articular de todos estes momentos não resultou numa união sonora. Como se este conferisse a moldura, ao passo que o dobro e o baixo teriam a obrigatoriedade de dar um preenchimento, neste caso, musical.
Os Timespine apresentaram os constituintes de construção, mesmo que na maioria dos momentos soassem a solidão. Para isso muito contribuiu a projecção de ondas e espaços marítimos, lembrando que este poderia ser o som a adornar o desamparo e a falta de protecção sentida num enorme espaço, em que apenas somos atingidos por pequenos toques e tons incertos e longínquos. Contudo, mesmo que fossemos transportados para esse tipo de ambiente, a verdade é que a bancada amovível e a proximidade com os músicos permitiu que até o raspar nas cordas e o mais simples dedilhar fosse escutado.
Para os Timespine não foi preciso uma actuação extensa. Apesar de curta, o velejar nas águas projectadas foi o suficiente para a satisfação.