Formados há apenas dois anos, os polacos Tides From Nebula trouxeram aoMusicBox o seu álbum de estreia intitulado Aura (2009). Baterista, dois guitarristas (um deles encarregue de um teclado, também) e um baixista compõem o quarteto de Varsóvia, onde não há espaço para qualquer voz ou letra. Foi assim que se apresentaram no palco do Cais do Sodré, sob ténues luzes azuis, e foi assim que conquistaram quem lá esteve para contemplá-los.

O som dos Tides From Nebula salpica o nosso cérebro com verosimilhanças várias. Assim que se acendem os pedais, as guitarras transportam um lirismo belo e espacial, denominadores comuns de tantas outras bandas que vão vagueando entre o post-rock, o post-metal e toda essa panóplia etiquetada. O seu som transporta essa leveza, encrostada igualmente nas palpitações violentas, dramáticas e furiosas, das quais se ornamenta a distorção neurótica – na qual tantas vezes explode a beleza com que se inicia a composição. É como assistirmos a uma experiência nuclear nas águas sossegadas e gélidas de um qualquer ponto inóspito deste globo. A dicotomia sonora dos Tides From Nebula, por si só, basta para colocar em sentido uma plateia.

Contudo, estes polacos apresentaram algo não tão comum assim, em Lisboa. A sua arte não se confina somente a pontos de contacto com uns Isis (como nos leva a crer a faixa Tragedy of Joseph Merrick) ou com uns God Is An Astronaut. A intensidade colocada na prestação ao vivo fez com que as cerca de vinte pessoas presentes aplaudissem, estonteadas, cada final de música. O movimento dos corpos, as guitarras erguidas em direcção ao chão da Rua do Alecrim, a violência do headbang, a raiva sensorial libertada… Tudo isto tornou o concerto dos Tides From Nebula uma experiência para além do “vamos lá ver o que estes gajos valem”. Já o disse em outras reviews, tanto de álbuns, quanto de concertos, e repito-o: numa era em que bandas nascem como cogumelos, destacam-se aquelas que apresentam uma sinceridade incomum naquilo que produzem. Não será por acaso que o vídeo ao vivo da Locust Star de Neurosis, no Ozzfest, tem mais de um milhão de visitas.
Os Tides From Nebula trazem nas suas almas essa entrega e o público rende-se a cada riff e a cada “obrigado”, dito com pronúncia de leste por Adam Waleszyńsky.

Durante aproximadamente uma hora, os polacos unificaram-se aos espectadores; de tal forma que, na penúltima faixa, os dois guitarristas desceram do palco e tocaram cara a cara com quem os olhava. Simbiose rara, que mais rara se tornou quandoAdam colocou a sua guitarra ao pescoço de um dos presentes, num gesto súbito e proveniente das entranhas de quem se sente feito da mesma argamassa dos que o aplaudem.
Ainda houve tempo para mais uma, mas, se fosse caso disso, o público teria ficado lá para mais umas quantas. Terminado o concerto, os quatro polacos voltaram para os bancos do MusicBox, onde receberam elogios, cumprimentos e alguns euros em troca de t-shirts e álbuns. São momentos como os sessenta minutos de Tides From Nebulaque nos fazem acreditar que vale a pena sair de casa e enfrentar o frio e demais adversidades.

Como diria Adam Waleszyńsky: não é importante tocar para muita gente. É importante, sim, tocar para vocês.

E como não quero referir somente um membro, deixo aqui o nome dos restantes, com o devido aplauso:
Maciej Karbowski (guitarra e teclados);
Przemek Węgłowski (baixo);
Tomasz Stołowski (bateria).