Supostamente, o ser humano é livre, auto-suficiente, podendo ou não privar com os comuns mortais e está à vontade para encontrar a própria persona verdadeira – no seu carácter mais visceral e natural – na floresta, nos longínquos e solitários bosques, junto do bucolismo pacato e alienado da civilização urbana. Muito resumidamente, e sem suposições (porque, na opinião de quem assina, o homem é livre de pensamento para executar o que bem quiser), esta filosofia do norte-americano Henry David Thoreau é o leitmotif inspiracional para Walden Pond’s Monk, o mais recente trabalho do português Tiago Sousa.

Neste registo, o barreirense enceta uma expedição pessoal e muito, muito intrínseca à génese da natureza criadora, afastando-se, assim, do seu passado rock da ida Merzbau. Walden Pond’s Monk torna-se, então, numa experiência em que as palavras falham, para quem ouve. Dividido em quatro actos – cada um deles com cerca de dez minutos -, este é um disco de peças ao piano, onde os pormenores toldantes da percussão e do clarinete (bem entregues, respectivamente, a Baltazar Molina e a Ricardo Ribeiro) sobressaem do minimal que tanto diz, do silêncio tocado, idílico e xamânico, e da reflexão que brota ao de cima.

Quase como uma purificação para a filáucia humana, Walden Pond’s Monk é terapia. Daquelas belas. Daquelas das quais não falamos, mas que apenas sentimos.