No sexto e último lançamento, os Thursday finalmente fizeram o que ameaçavam fazer há já alguns anos: deixar as raízes post-hardcore de lado em favor de uma abordagem mais abstracta e atmosférica à sua música. Foi uma evolução natural, uma vez que o último disco de post-hardcore puro, tradicional, lançado pelo sexteto de New Jersey, foi o já lendário Full Colapse.

Isto no longínquo ano de 2001, em pleno reino das baggy pants e dos bonés dos NY Yankees. Pelo meio, especialmente em 2006, no belíssimo A City by the Light Divided, houve um flirt com faixas mais densas, com uma atmosfera mais negra e introspectiva. No Devolución é uma continuação mais post-rockeira do disco de 2006, uma continuação sem os berros e o peso ocasional. Uma continuação mais contida, vá.

A voz de Geoff Rickly, o cantor que melhor desafina neste mundo, parece jogada ao vento, a vaguear por cima dos teclados densos de Andrew Everding e das guitarras da dupla Tom KeeleySteve Pedulla. O som do baixo de Tim Payne, favorecido pela produção do habitual Dave Fridmann, impõe-se bem contra a dupla de guitarras, e faz uma boa combinação com as camadas de teclados e programming de Everding. É o álbum em que os dois tiveram mais espaço de manobra, e ambos aproveitaram muito bem.

Faixas como a épica Sparks Against The Sun ou até o single, a post-punkish Magnets Caught In A Metal Heart, provam isso mesmo. No seu todo, No Devolución é uma pequena…revolución há muito adiada, que já estava marcada para acontecer há quase uma década. Ironicamente, deixam a música num ano em que três dos pretendentes ao trono do post-hardcore se excederam com grandes discos…

No penúltimo dia deste mês, no Theatre Of Living Arts em Filadélfia, os Thursday dão o seu último concerto. Há quem leia um “até já” no comunicado que a banda postou no seu site há umas semanas – eu leio um “até à vista”. Terminam praticamente desconhecidos deste lado do Atlântico e o mais próximo que estivemos de uma presença destes senhores em Portugal foi o rumor de que a banda vinha ao Alive 2011.

Ainda assim, foi o suficiente para este escriba olhar para a magra carteira e mandar mails inquisitivos à promotora do evento. Até à vista e obrigado por tudo.