Luis Vasquez, um paradoxo que rosna e calça ténis. Pouco há naquele post-punk que não se arrume num triste breviário urbano, que não se enfie numa podre carruagem com destino a Berlim. É lá que ele mora, encostado pelo tédio à parede, meio coxo pela convalescença escapista, tão banal aos que fogem ou aos que já não dormem só de pensar na fuga. Vasquez tem vista para Potsdam e rodeia-se com o que lhe engraxa a depressão: um cemitério de memórias, uma capital devoluta pela própria história, gorda de segredos, de solidões estéreis, de bafos alcoólicos, de boîtes putanheiras, um intervalo que já foi entre civilizações e agora faz-se entre vazios. Uma platitude que se vê ocidente, um lugar vago no expresso que sai todas as manhãs para oriente. Berlim e o Vasquez. Que alguém busque conforto no cosmopolitismo vazio, que se deite pelas avenidas decompostas em degradações de inútil, não espanta. Nasceu assim a Factory Records. Mas haver quem o faça para escapar ao deserto…

The Soft Moon @ Musicbox, Lisboa

The Soft Moon @ Musicbox, Lisboa

É a contradição venérea de The Soft Moon: um entreposto de carvão industrial nos pulmões, um molho de limbos nas grades de Macclesfield, um velório meta-urbano que quer à bruta exercer o isolamento contemporâneo, escondendo em tudo isto a sua vontade real: regressar ao Texas. Foi lá que cresceu e é para lá que todos os seus discos apontam. Esqueçam Berlim, troquem os prédios moribundos pelas planícies da Non-Fiction-Fiction, que Vasquez é um adulto estrangeirado à procura do puto que ficou preso lá atrás. A angústia de uma infância dependurada – ou “Deeper”, como lhe queiram chamar.

The Soft Moon @ Musicbox, Lisboa

The Soft Moon @ Musicbox, Lisboa

The Soft Moon @ Musicbox, Lisboa

Em Lisboa, num Musicbox entalado de gente, o léxico post-punk não deixou que a máscara caísse: o baixo solipsista preocupado apenas com a sua órbita de graves, a cadência enquanto fortaleza de asco que nos agarrou pela cintura, um Vasquez que se escondeu de si mesmo nas sombras. Abúlicas, as cantigas sucederam-se e, bêbada, Lisboa dançou. Um falso after-hours, um cinismo de que agradaria à Marquesa du Deffand, temas que vestiram cabedal mas ansiaram pela nua vagabundice do krautrock. Enfim. E quem não finge?