O post-punk, até pela sua génese urbano-depressiva numa Grã-Bretanha a mastigar ferrugem, foi o amante abstracto que a maquinaria sempre ocultou. Num ronco industrial que trouxe vagas, contra-vagas, new waves e avant-gardismos – um combate pelo ruído maior, pela distorção-bomba que nos implodiria o ventre se de soslaio galanteássemos a pop que não veste o negro cabedal. De revivalismo em revivalismo, o post-punk regressou agora como um cicerone de esgar férreo, pela penumbra, no seu frenesim anómico de quem tem tanto para nos dizer mas escolhe o silêncio de um sorriso abafado. Não surpreende que Luis Vasquez em “Far” escreva sobre uma morte permanente, que o rumina dia após dia por sadismo privado – o pai de The Soft Moon pede clemência, «Take me far away // I was born to suffer // It gets harder every time», acocorado, de olhos turvos, como um Dave Gahan renascido em 1980. O sossego, esse, não chega, vai lá ao longe, oblíquo, e “Deeper” persegue-o. Noite a noite.
Admitido por Vasquez, o novo álbum é um esforço pelo desassombro, um transparente lamber de feridas sobre sintetizadores em contracções orgásticas – “Wrong” leva The Soft Moon pela mão ao techno industrial uterino, onde “Pretty Hate Machine” dança solto sobre a solidão [qualquer semelhança entre as platitudes líricas de Vasquez e Reznor poderá não ser mera coincidência, acrescente-se]. “Deeper” é convulso, é ansioso com o que a ânsia tem de mais terrível. Um psíquico hipocondríaco de remédio em remédio. Cápsula a cápsula: o psicadelismo que embainha na madrugada, a electrónica como um bojo amargo de arrependimentos, o grave post-punk gota a gota – “Deeper” experimenta todas as prescrições para iludir o desespero com aquela sofreguidão ponderada dos obsessivos. “Deeper” é mais do que qualquer outro disco de The Soft Moon por isso.