Soa a ofensa apelidar de brincadeira de meninos o Solve Et Coagula, disco que atirou em definitivo os The Secret para a frente de combate do meio mundo que se tem regozijado a fazer hardcore do mais podre que há. Esse álbum foi tão assertivo, que oGreg Anderson – dono da Southern Lord, editora onde os italianos estão inseridos – se viu obrigado a coloca-los noRoadburn. De tantas bandas stoner/sludge/drone que o homem poderia ter escolhido para essa edição de 2011, onde foi curador de uns dias, lembrou-se dos senhores mais velozes que tinha à disposição. Há uma peremptória razão por isso: os The Secret são muito, mas mesmo muito bons.

As incertezas dissipam-se por completo com Agnus Dei. Apesar deSolve Et Coagula já ter contado com Kurt Ballou na produção, o novo álbum dos transalpinos está uma bujarda sem precedentes na sua carreira. Incomparavelmente mais encorpado e acirrado, o som dos The Secret parece ter mergulhado num caldeirão de anabolizantes. Resultado? Uma mutante besta, cuja principal adição passa pelo black metal. Sabia-se já de antemão que os The Secret têm um fraquinho pelas sonoridades provindas das florestas nórdicas – o vocalista esteve até envolvido numa polémica, quando houve gente de esquerda que não gostou de o ver num concerto com uma t-shirt de Burzum. Desconhecido era o facto de esse fraquinho ser uma paixão vincada: os italianos conseguem construir um grande álbum de (dark) hardcore em torno de tremolo picking e atmosferas dignas de pertencerem à região de Bergen.

Os Young And In The Way também mostraram em 2011, com I Am Not What I Am, que são capazes de fazer algo do género. Mas, para além de serem definitivamente mais crust, não chegam à robustez de Agnus Dei. As guitarras estão titânicas (o baixo, então, é de uma sujidade insalubre) e a bateria parece dominada pelo espírito de Ben Koller – há, aliás, muitas verosimilhanças entre as arritmias dos Converge e aquilo que os The Secret fazem desfilar neste disco. Com uma nuance: o factor black metal, claro está. As blast beatalhadas servem de bússola e garantem o norte aos italianos, que jamais deixam que esse trunfo se torne bluff.

A destreza com os que estes senhores conseguem soar demencialmente negros e, em simultâneo, mais punk que muitos dos que assim se auto-designam, fica empiricamente atestada comLove Your Enemy, uma das grandes malhas deste conspurcado 2012. Se não tiverem vontade de se estremalharem por completo com aquela intro, então… Checkem o vosso pulso, pelo sim pelo não. Darkness I Became, por outro lado, revela a mestria com que o quarteto é capaz de arremessar morteiros de black metal, aptos a despedaçar toda a espécie humana e a atirá-la para Seven Billion Graves, tema que encerra o álbum. Naquele que é, porventura, o momento mais asfixiante e mórbido de Agnus Dei, o conselho principal é este: ouçam os treze minutos e trinta e quatro segundos da malha, mesmo que o silencioso interlúdio vos pareça demorado.

Ao pé deste Cordeiro de Deus, somos todos meninos.