Alexander von Meilenwald e Heinrich Kramer, dois nomes fundamentais em “Blood Vaults – The Blazing Gospel Of Heinrich Kramer”. O primeiro porque é o único membro dos The Ruins Of Beverast e como tal o responsável por esta impressionante obra musical, o segundo porque foi a besta que escreveu “Malleus Maleficarum” (qualquer coisa como “O Martelo Das Bruxas” em português), livro em que se baseia o álbum.
Originalmente publicado em 1486, este divide-se em três volumes: o primeiro lida com uma tentativa de demonstração (dentro do contexto teológico da época) da existência de feitiçaria e com uma interpretação da mesma, o segundo com uma descrição das características das tais feiticeiras e de meios para as combater e finalmente o último foca-se nos aspectos legais por trás da perseguição e julgamento das mesmas. Uns anos depois, “Malleus Maleficarum” terá sido um dos principais fundamentos teóricos por trás da onda de julgamentos selvagens de bruxas que assolou a Europa nos séculos seguintes.
Há duas razões para que tenhamos perdido este tempo todo a falar do livro e não do disco. A primeira é que a divisão em três partes é seguida em “Blood Vaults” e em nosso ver é fundamental para compreender a forma como a atmosfera flui do início ao fim do álbum. A segunda prende-se não tanto com a forma mas com o conteúdo. É que em vez termos apenas uma demonstração de ódio do artista para com a sua concepção de religião, somos invadidos pela desconcertante justaposição entre o ambiente religioso e o quão repugnante foram as acções de seres humanos nesse mesmo contexto.
Estilisticamente, o álbum dá o passo seguinte na evolução registada em “Foulest Semen Of A Sheltered Elite”, algures entre o black metal do início da carreira e doom bem arrastado, sempre com uma sumptuosidade que nas mãos de artistas menores descai invariavelmente para o pedantismo insuportável. Como inspiração não falta ao Alexander, tudo o que tenta fazer neste álbum resulta na perfeição – uma palavra perigosa neste jogo de escrever sobre música, mas inevitável na presença de temas como “Malefica” (ou qualquer outro, que em boa verdade não há um único que não tenha os seus momentos de génio) com o seu arrepiante crescendo de intensidade suportado por uma belíssima melodia de fundo em constante repetição.
Em suma, “Blood Vaults” é um daqueles raros trabalhos que ultrapassa completamente o(s) género(s) em que está inserido. Acima de tudo, é uma obra incontornável da música extrema feita actualmente.