Música não é só melodia, nem tão pouco apenas batida; é silêncio em igual medida das sua companheiras de composição molecular super-hiperbolizadas actualmente. Neste aspecto, que nem uma bomba H, os Kilimanjaro Darkjazz Ensemble elevam o poder do silêncio com o seu substituto mais imediato, mais instintivo: From the Stairwell, o álbum mais recente do colectivo germânico.

Anti-climático mas completamente arrebatador, o álbum tem os seus crescendos sem impor, em situação alguma, mais do que a calma e letargia – e os êxtases não são mais do que um primeiro sono, experimental e de testar a segurança dos colchões em que se descansa. Não é isso, contudo, que impede a banda de galgar o jazz e os seus lugares-comuns, de lés a lés, sempre com as suas baixas decibelagens a caracterizar tudo, desde as guitarras às baterias em swing, salvando-se, aqui e ali, um saxofone e um ou outro metal.

Mas nem sempre de jazz se trata no Kilimanjaro, nem apenas do lado negro da sua força. A beleza deste registo está no tudo que cabe num nome tão traiçoeiro como o dos Alemães, que apontam imediatamente para um género em que não se fecham. E talvez seja isso o Darkjazz destes senhores, com as suas vozes melosas como as da folk, com as suas visitas medicinais às batidas do trip-hop, a quem até pedem um baixo emprestado em Giallo, e com a vontade de viver da teatralidade da música erudita, como se nota no fim de White Eyes e em Celladoor.

Ouvir From the Stairwell deverá ser muito semelhante a olhar o céu e ver as nuvens passar – para uns será apenas uma maneira azulada de perder tempo, mas para muitos será um verdadeiro exercício de introspecção e de deleite. É no silêncio que a nossa mente navega e o novo álbum de The Kilimanjaro Darkjazz Ensemble é um oceano para se divagar. E não há qualquer tipo de tempestade no horizonte.