Os homens não se medem aos palmos e os discos de rock nunca se avaliaram pelo tamanho do vinil – ao contrário de todas as patranhas que o Miguel Esteves Cardoso possa ter dito sobre essa matéria, às vezes ouvir um disco dá prazer. Na matéria do rock a descair para o pop, como é o caso de Leeches dos Glockenwise, o valor mede-se pela sua capacidade de, como por esse mundo fora se diz, ser viral. Leeches é uma doença terrível, acreditem: os sintomas começam nos ouvidos, espalham-se pelo corpo e implicam repetições do disco até à exaustão. Uma doença tipo droga, contra-indicada para as pessoas com baixa tensão, mas de que toda a gente gosta secretamente.

O potencial de Leeches é, precisamente, o de ser um segredo mal guardado por parte do quarteto barcelense, uma vez que tem todos os ingredientes de um bom disco pop, toda a energia do rock e a sinceridade de um punk juvenil. Ao longo de oito músicas, somos conduzidos por temas assumidamente rock e disfarçadamente pop, onde os pormenores assumem o papel preponderante de enfatizar o que importa. Ora um teclado para o pé de dança, como se ouve na faixa de abertura, ora um saxofone para a euforia, com o condão de Pedro Sousa (dos PÃO), ora uns acordes de piano a acalmar os ambientes para a consequente explosão de Mood Swings (o título cai que nem uma luva, portanto). E a lista continua.

Há que pôr as coisas em pratos limpos e dizer que os Glockenwise cresceram, estão melhores compositores (ouça-se o refrão orelhudo de Super Villain e o pormenor de guitarra entre vozes no refrão: delicioso). Serão sempre os miúdos de Barcelos, mas já não fazem rock sem merdas. O rock deles, por muito descomprometido que seja, agora tem merdas. Para felicidade de todos, são boas merdas, que não caem no exagero – ou não fosseLeeches ficar-se pelos 20 minutos.

No fim do disco, com a já tradicional despedida de Goodbye, impõe-se a repetição. Ou as repetições. Mas estas só rendem porque existem novidades, pormenores, que mantêm o disco fresco. Os Glockenwise foram na direcção certa, a de justificar um novo álbum com canções melhores.