Os The Body estão naquela fase astral em que tudo lhes sai bem e arrotam arco-íris. Chamem-lhe karma por terem aguentado centúrios no anonimato; a verdade é que eles entram estúdio adentro de peito inchado, naquela bazófia hollywoodesca de quem já sabe que o desfecho lhes dará a vitória com um monte de explosões no background, e aviam prodigiosamente cada tarefa. Seja a resgatar a alma de Vic Chesnutt num depressivo vínculo com os Thou, seja a queimar cartuchos cerebrais enquanto The Haxan Cloak nas barbas lhes vai vertendo o caldo cacofónico.

Neste split, os The Body resumem no quarto-de-hora que dura “The Manic Fire” como foi este seu 2014: ganem com estridência e, como que a aparar os safanões sludge/drone, enfiam para ali umas orquestrações – temos piano, temos vozes limpas femininas e temos as sobras dessa experiência barulhento-carnal com monsieur Bobby Krlic. São os The Body, sem erros de concordância, a escreverem a contracapa da sua biografia. Querem mais? Leiam o recheio [não tem bonecada].

O giro nesta edição conjunta passa mais pelos Sandworm. Até porque, de vez em quando, sabe bem a um crítico [risos] armar-se em paternalista. É que eles são como aquele bebezinho recém-nascido acabado de dizer a primeira palavra. Não é papá, nem mamã – é mais um esganiçado rugido black metal, adoravelmente lo-fi, graciosamente punk. Os Sandworm, também eles um duo made-in Providence, tocam sobre uma despreocupação tal que quase nos apetece chamar-lhes naïfs. Chutam riffs impecáveis. Não precisam de baixo. E a bateria, gravada ali às três pancadas, é crua, deslavada, como se se estivesse a rir de todo o catálogo da Thrill Jockey. É a magia do futebol, diria Gabriel Alves. É a magia do black metal, corrigimos nós.

Momento Wikipedia: diz-se que, desde os seus dezassete aninhos, Ben Eberle [vocalista||guitarrista dos Sandworm] já viu mais de 100 concertos dos The Body e que andou a gritar à grande nos últimos dois LPs. Por sua vez, o baterista Pat Reillytocou viola no “All The Waters Of The Earth Turn To Blood“. São amigos. Pois, lá isso, são. Talvez quando existir um “Trivial Pursuit” versão metal estes factos vos venham a dar jeito.