Hablemos de langostas, dizia o Foster Wallace. Esse bichinho crustáceo, morto com uma facada nos cornos antes de ir para o tacho – isto quando não é espetado vivo numa caçoleta a ferver (especificidades do nosos ‘carácter demoníaco’, de acordo com Benedito Nunes) – alcançaria a imortalidade biológica não fosse a energia dispensada a cada troca de exosqueleto. Se calhar aconteceria o mesmo com os Full Of Hell. Vê-se, naquele pescoço todo encarnado do Dylan Warker, que vai grunhindo e berrando como se houvesse sido empalado pelo umbigo, que as mudas de pele lhe custam. Custam a ele e custam aos outros. É que são muitas: começou-se no hardcore do “Roots Of Earth”, trocaram de vagão como quem vai de Man Is The Bastard para Merzbow e hoje os olhos enchem-se de sangue porque ninguém mexe no (bom) death metal sem que isso lhe custe pelo menos um rim ou um bocado de fígado. Os Full Of Hell poderiam ser imortais, mas, como as lagostas, não são. E limitam as coisas a 20/25 minutos por noite, como os pugilistas que não entregam a sorte à pontuação. Resolvem antes por economia de esforço. Poupam-se a eles, mas aguentamos nós – quer dizer, há quem no Musicbox tape os ouvidos – e no final não há taça para ninguém. Perdemos todos. “Man will always fail”, lia-se atrás do bateria.
Voltamos ao copo de cerveja para não engolir em seco a espinha que sobrou. Os The Body vêm com baterista emprestado – o Zac de Braveyoung, que o original mal consegue sair de casa – e, se os Full Of Hell se portam como um cadáver em câmara ardente que se repete a si mesmo, os dois que se lhes seguem são tipo aquele gajo que nos funerais acaba a rir desta patetice que é estar vivo – uma camisola do “Chaos A.D.” (usada pelo menos desde o Roadburn, para constar em acta), a frase “I Want Nothing But Death” projectada (quem não quer, quando a imperial na casa custa 2.5€) e um setlist escolhido em jeito de ‘chupem lá disto se vinham para aqui à espera de fechar os olhos com as nossas cenas mais experimentais’. Foi tudo horrivelmente feio, nojento, directo, de groove que mete as webzines a capitalizar sludge metal como se fosse nome próprio. Foi jocoso e foi alto, mas alto a sério, com a velhinha “The City Of The Magnificent Jewel” a meter a cabeça em água ao pessoal que vinha desprevenido. Trinta minutos, que aquela língua de colar selos do Chip já não está para maratonas.