Onze aninhos no caparro, cinco álbuns no colo; aos Terror, eternos “fucked up kids”, negar-lhes estaleca é navegar no absurdo. Nem tanto pelos dados biográficos cuspidos nesta introdução, mas sim por terem revirado, no início do milénio, o hardcore de pantanas. Encheram-no de bílis metaleira, breakdowns de “swingar” os punhos sem temor e uma essencial devoção à cartilha da disciplina urbana.

Não surpreende que, pese embora um menos conseguido Live By The Code, os norte-americanos tenham sido recebidos à “tuga style”: chuto para à frente, para o lado, microfone em comunhão eOne With The Underdogs trauteada sem erro. Vogel, já um chafariz de suor, sorria – no domingo mais quente do ano, o ar condicionado da República da Música foi menino ante o enorme bafo do nosso verão “saaráfico”. Spit My Rage, outro hino de ranger molares, saldou-se num banho turco: t-shirt atiradas para o lado, mergulhos para o asfalto e uma fúria que permanece intacta desde 2004. Always The Hard Way, connosco, é sempre traduzida à risca – da maneira mais impetuosa, houve quem subisse a palco e, por momentos, se assomasse puro vocalista.

Usando menos palavreado (i.e., “vogelisms”) do que o habitual, osTerror, trintões convictos (à excepção do baixista, vocalista dosDown To Nothing), cravaram de rajada o seu setlist, num teste ao fôlego português. Inteligentemente amparando as novas The Most High e Live By The Code com malhonas antigas, disfarçaram as fragilidades do seu mais recente disco, e da cartola sacaram aindaStrike You Down. Porém, há que deixar os paninhos quentes para doravantes ocasiões – é com as eternas Overcome e Keep Your Mouth Shut que a coisa ferve. Às Underdogs ninguém vacila: corpos voam do palco, corpos rodopiam no pit, corpos regozijam na adrenalina, enquanto Keepers of The Faith surge, ao fundo, em epílogo. Há quem exija mais e denote que de Lowest of the Lownem uma faixazinha – e, caramba, que bonito teria sido assistir aPush It Away ou Another Face. Paciência.

Ao contrário de outras visitas dos californianos ao nosso cantinho, a guarda de honra, desta vez, foi portuguesa. Os Devil In Me, calejados por tantos anos de luta e tantos quilómetros de alcatrão (muitos em companhia dos Terror) não estão com a mínima vontade de guardar as sleeveless – prometendo novo disco para breve, intitulado Soul Rebel, os algarvios dele apresentaramKnowledge Is Power, alimentada a riffs hipertróficos e breakdown contundente. Sem atingir níveis caóticos de outrora – a recente passagem pela Rep. da Música, no Jurassic Fest, foi bem mais agitada – os autores de Only God Can Judge Me assinaram solidamente o livro de presenças.

Também os Shape atravessam um belo período criativo. Enquanto as guitarras aqueciam, o vocalista João cantou, ao de leve, alguns versos de 27 dos Title Fight. O público, certamente pouco dado aos devaneios do punk melódico, deixou-se cair na apatia e na apatia se prolongou durante o set dos lisboetas. Limitados por uma acústica fraquinha (claramente a pior da noite e as outras também não foram famosas), a distinta abordagem dos Shape ao hardcore – cada vez mais carregada a riffs crossover – sofreu e nem a enorme Rotten Inside ergueu aquela avalanche emocional à la Hardcore Benefit, em Cacilhas. No concerto de despedida do baixista Peter, o futuro foi apontado com The Sky Will Fall. Antes de tudo, e no capítulo nacional, os Above The Hate cruzaram o Tejo e trouxeram da Margem Sul deathcore para aquecer os ninjas de Alvalade.