Depois de tocado um longo repertório de temas, Blixa Bargeldapresentou “Alone With The Moon” como a faixa que motivou o encontro do duo. Nessa ocasião, aquilo que se pretendia era musicar um filme que representava o abandono da vida do crime de um pecaminoso mafioso italiano através da abertura de uma pizzaria. Contudo, será de supor que esta personagem seria incapaz de esquecer os fantasmas que o assolavam perante o seu tipo de comportamento passado. No fundo, a música que pressentíamos acabou por revelar esta dupla faceta. Se em anteriores momentos, encontrámos o senhor Neubauten sereno e íntimo em “Mi Scusi” ou “Nur Zur Erinnerung”, também o vimos a conferir ainda mais robustez e fúria à sua já muito vivida voz.

No entanto, se podemos admitir que é em Bargeld que se centrou a nossa atenção, muito motivado pelo seu histórico e admirável percurso, estaríamos a ser muito injustos ao não atribuir a Teho, e também à violoncelista Martina Bertoni, a importância divina das suas instrumentalizações. Foi admirável a capacidade do germânico para se tornar um livro em branco pronto a ser preenchido, mas não foi menos valorizável que das cordas não se tenha pressentido qualquer sobreposição, mesmo que os temas ao vivo tenham soado mais fortes. “Nocturnalia” ou “Still Smiling”, faixa título do disco editado no ano passado, comprovaram que se os conteúdos musicais soaram livres, a sua firmeza e ausência de separação foram indiscutíveis.

Anteriormente já o tínhamos vislumbrado em igual espaço sujeito à electrónica de Alva Noto no projecto ANBB, desta feita, sentiu-se uma ainda maior comoção, entrega e, porventura, mais arrojo e controlo das explosões vocais e gritos que lhe estão associados. Apesar de ter soltado alguns guinchos arrepiantes e incomodativos,Bargeld surgiu mais calmo, mesmo que isso pouco importe e olhemos para este performer e gesticulante personagem com uma admiração incontrolável.

Enquanto o ex-Bad Seeds divagou pelas várias línguas que estão presentes na estreia discográfica, Teho Teardo tratou de mostrar em “Buntmetalldiebe” como ainda podemos sucumbir à força do baixo. Mas também como ainda é possível gostar da melancólica versão do violoncelo em “What If”.

Com a entrada do Quarteto Lopes-Graça operou-se ao momento menos interessante da noite: “The Empty Boat” versão de um tema de Caetano Veloso e incluído em “Spring”, novo registo do duo. No entanto, foi curta essa interrupção de qualidade e tensão, “Come Up And See Me” mostrou que o acrescento de cordas, traduziu-se em mais dramatismo e particularidade, sem que se estranhasse a simples declamação de canais de televisão italianos ou conversas de Blixa em “Defenestrazioni”. O que se podia desejar mais? Naquele momento, nada. De futuro, que esta colaboração seja uma constante.