Final de Abril é sinónimo de SWR Barroselas. E chuva, muita chuva. Se é verdade que o dilúvio não é estranho ao mítico festival minhoto, este ano terá sido certamente um dos mais abençoados. As soluções? Reforçar as tendas, oleados e galochas… ou simplesmente ignorar as possibilidades de pneumonia, bronquite e afins. Afinal há sempre um ano para recuperar até ao próximo.
Depois do habitual Dia 0 que contou, entre outros, com o humor blasfémico de Vizir, o Dia 1 contava com um cabeça de cartaz destacado entre os vários nomes que se alinhavam no primeiro dia: Shining. No entanto, haviam alguns segredos mais ou menos escondidos pelo caminho.
O primeiro deles é uma habitué de Barroselas – os colombianos transformados madrilenos, Internal Suffering. Se a catadupa de bandas de brutal death às vezes toma épicas proporções em Barroselas, Internal Suffering será certamente uma excepção à saturação. A habitual capacidade técnica deste tipo de bandas é complementada na perfeição com uma capacidade que parece perdida nas mesmas: o riff. O riff sujo e badalhoco que tem no vocalista Fabio Marin um complemento perfeito em forma de besta de palco, que foi atordoando a plateia ao longo dos quarenta minutos de actuação. Não foi exactamente a entrada do Dia 1, mas foi o primeiro momento realmente relevante.
Havia uma vontade quase incontrolável para fazer fast-forward ao que se seguia até Killimanjaro. Primeiro porque Neuroma era o contrário de Internal Suffering, palmilhando caminhos estilisticamente semelhantes. Depois porque Skyforger e os seus contos de batalhas passadas deram mais sede do que vontade de os ouvir. Chegava-se então aos barcelenses. “Hook” é um álbum cheio de bolas. Ou melhor, de bolas cheias. O concerto por conseguinte não foi diferente. Já há algumas edições que o trio tinha destruído o palco 3 do festival e desta vez a tocar dentro da tenda não foi diferente. Atitude imersa no rock&roll e riffs para dar e vender foram a receita para mais uma aparição de sucesso.
Os italianos Fleshgod Apocalypse seguiram-se no palco principal. Os fatos e o aparato foram tão são plásticos como os triggers do (excelente, já agora) baterista… O som não ajudou nada, mas, se a proposta já de si é demasiado insuflada, ao vivo a coisa só piora. Pelo que foi com ansiedade que os minutos se prolongaram para fazer a curta viagem para até o segundo palco e ver outros italianos – desta feita, Grime. Não há nada de realmente novo no sludge da banda de Trieste, mas o som arrastado e sentido foi bastante bem vindo depois do que os conterrâneos tinham feito. Ficou a vontade de ir revisitar “Deteriorate”, álbum de estreia datado de 2013.
Chega-se a Shining. Quando a 23 de Maio de 2008 os suecos violaram autenticamente o Cine-Teatro de Corroios, eram uma banda em pico de forma. Sim, o “Halmstad” já não era a obra-prima e marcante que era “The Eerie Cold”, mas era um enormíssimo álbum de black metal. Cheio de identidade e a demonstrar que não havia banda como Shining no panorama mundial.
Quase sete anos volvidos, e depois de álbuns insípidos (o sexto), desinspirados (o sétimo) ou francamente maus (o oitavo), já é uma banda bem diferente. O novo e nono álbum prometia algo novo e transcendente no lado mais negro da existência… Mas os três anteriores também e a promessa mantém-se por cumprir de 2007 em diante.
Ainda assim, e que mais não fosse para ouvir temas de tempos bem melhores, eis Shining. O concerto acaba por ser o reflexo do que atrás foi descrito: se ainda há momentos de grandeza em temas como “Submit To Self-Destruction”, o resto só se salva a espaços – e com muito custo. Os primeiros minutos foram ainda marcados pelo facto de o som estar francamente embrulhado, mas não foi isso que deu a ideia de clara decadência de uma das melhores bandas que o black metal produziu no início do século… E não parece ser este sentimento de decadência incessantemente procurado por Kvarforth.
Uma nota a propósito de todo o acto: após uma fase mais contida, parecem ter voltado as atitudes espalhafatosas de Kvarforth, agora reforçadas com um guitar-hero que toca “Sweet Child Of Mine” (ou tira a t-shirt…) quando o chefe manda. É irrelevante. Era-o quando Shining era um portento ao vivo e é-o agora quando essas mesmas atitudes não servem para disfarçar a repetição de estruturas e falta de inspiração da banda. Não foi certamente por aí que o concerto deixou uma sensação agridoce na boca.
O resto da noite já tinha pouco para oferecer: os Incinerate aparentemente não estavam nas imediações quando Internal Suffering tocou caso contrário teriam ido para casa; já os espanhóis Crisix ainda arrancaram uma festa rija a encerrar o primeiro dia no palco principal, mercê de uma espécie de tributo a tudo o que foi escola de thrash na viragem dos anos 80 para 90. Para o fim, ainda ficou o contingente português com Redemptus e Wells Valley mas, ainda com o Burning Light na cabeça, foi tempo de ir recarregar baterias.