Olhando para o cartaz do dia, e desculpem-nos as outras bandas, o destaque maior era descaradamente Pentagram. Estatuto que fizeram por justificar no final da noite, já depois de uma longa sequência de concertos, que no que diz respeito ao recinto principal, começou já depois dos Hellcharge passarem na SWR Arena e logo com três tiros ao lado, nomeadamente os The Ransack e Headhunter DC no palco 2 e os Persefone no principal. Os primeiros até deram um concerto competente dentro daquele death/thrash melódico que tanto se faz em Portugal, sendo o problema mesmo da falta de inspiração na escrita propriamente dita (mal que, diga-se, não é exclusivo deles). Já quanto aos brasileiros Headhunter BC, que eram descritos no folheto do festival como uma banda que comia e cagava death metal, o problema é mesmo cagarem death old school sem grande piada, ainda por cima intercalado com discursos dispensáveis e de gosto duvidável. Pelo meio, os Persefone mostraram um death progressivo/melódico em que ainda se registaram alguns riffs engraçados, mas demasiado frequentemente perdidos em tentativas desnecessárias de virtuosismo, arranjos de teclado mauzinhos e vocalizações pela mesma bitola de qualidade.

Foi então com uma sensação de alívio que chegámos à tenda exterior e ouvimos falar de construção civil, sinal inequívoco que os RDB estavam a começar o seu concerto. Da banda da Guarda esperava-se um festival de grindcore aporcalhado com porrada por todo o lado e foi exactamente isso que aconteceu. Ainda não tinham os portugueses terminado quando os veteranos Onslaught faziam a sua aparição no palco principal. Quase uma hora do thrash metal bem feito que se lhes é reconhecido, com um Sy Keeler bem disposto a comandar as operações. Ainda proporcionaram uma bela invasão de palco durante a clássica Fight with the Beast que estavam a gravar para um DVD. Passámos ainda pelos austríacos Belphegor em tour comemorativa dos 20 anos de carreira. Não tendo sido um mau concerto – que nos lembremos, nunca o são –, também não foi nada de particularmente excitante – aplicando-se aqui o comentário anterior. É daquelas bandas consistentes em que sabemos perfeitamente ao que vamos, seja em estúdio ou ao vivo, assistindo sempre ao mesmo híbrido de death e black metal dedicado a satanás e perversões várias.

Era chegada finalmente a altura de assistir à estreia dos Urfaust em Portugal, felizmente actuando num palco 2 que se adequa muito mais ao tipo de concerto e sonoridade dos holandeses. O duo tinha prometido um concerto intoxicante (e intoxicado) e foi exactamente isso que ofereceu, focando o set em temas de Geist Ist Teufel e dos vários trabalhos incluídos na compilação Ritual Music for the true Clochard. De uma originalidade rara, ao vivo serão as bandas, de black metal ou não, que se lhes chegam próximo na forma como conseguem deixar tudo hipnotizado à sua volta. Mesmo com um set curto, foi sem margem para dúvidas dos melhores momentos do fim de semana.

Mal tínhamos recuperado da sessão de minimalismo desconcertante a que fôramos submetidos quando os Pentagramsubiram ao palco principal para a segunda maior enchente do festival. Tratou-se apenas do segundo concerto desta formação, renovada com a inclusão do novo guitarrista Matt Goldborough (que teve uma excelente actuação), revelando a mesma um entrosamento notável. Com um Bobby Liebling numa noite fenomenal, foram-se seguindo temas desde os mais antigos como20 Buck Spin ou Forever my Queen de ’73, até aos mais recentes como Treat Me Right de 2011. Na maioria dos concertos, deixar de fora clássicos como All Your Sins ou Evil Seed podia ser motivo de discussão, mas quando se assiste a algo daquele nível nenhuma opção é questionável. Até o ambiente de festival, com pó pelo ar e som aquém da perfeição parecia o pano de fundo perfeito para o que estava a acontecer. Para o fim ficou a sequência deRelentless, Be Forewarned (estão mesmo a tocá-la!) e a inevitávelSign of the Wolf (Pentagram), terminando em grande uma actuação verdadeiramente memorável.

Depois do que se passara no último concerto de cada palco nem era preciso haver mais ninguém a tocar para termos ficado mais que satisfeitos. Ainda assim, duas bandas merecem destaque. Primeiro foram os islandeses Beneath a subir ao palco 2 na última aparição com o vocalista Gísli Sigmundsson, e a prendar os presentes com brutal death de boa qualidade, num estilo despretensioso e tecnicamente irrepreensível. Bela despedida. A barulheira não ficava por aqui, já que de seguida os checos obcecados por hentai dos Jig-Ai subiram ao palco principal para terminar a noite com o porno-grind cativante que os caracteriza. Saem com nota positiva, mas tivessem incluído os samples ordinários com que enchem os álbuns e teria sido ainda melhor.