Num festival historicamente conhecido pela forte incidência no death metal, o primeiro dia era uma maratona dentro do género para os fãs, com Decrepit Birth,. e Cryptopsy a figurar no palco 1 do festival. Para além deles apenas mais um género era representado no principal espaço do recinto, com Fen e Agalloch a trazerem algum post-black à vila minhota. Infelizmente, não foi possível assistir a mais do que o final dos ingleses, pelo que não estamos em posição de avaliar a sua prestação.
Falemos então do palco 2, que foi onde começámos o dia e que durante a maioria do mesmo foi uma grande desilusão. Primeiro foi o deathcore sem ponta de interesse dos The Last Shot of War, a que se seguiram os costa-riquenhos Pneuma, supostamente metal progressivo, mas claramente nas divisões baixas do mesmo. Foi já depois dos Miss Lava falharem redondamente em ser interessantes que tivemos o primeiro momento digno de registo, com os franceses Akphaezya a darem provavelmente o concerto mais divertido do festival. Pensem no que aconteceria se os Solefald se divertissem a escrever death metal progressivo para uma versão francesa Sandra Nasic cantar e estão mais ou menos próximos do que se passou ali. Mesmo com alguns momentos menos conseguidos, a qualidade de temas como Utopia ouNemesis (ambos do último Anthology IV), aliadas à boa disposição de Nehl Aëlin, serviram para ir contagiando os poucos presentes que se entretinham a dançar à frente do palco num dos momentos mais bizarros do fim de semana.
A primeira grande concentração no palco principal, e um saudável incremento de bom gosto após os The Last Shot of War, veio com os norte-americanos Decrepit Birth, que sob o comando do carismático Bill Robinson, arrancaram uma boa dose de porrada do público com death metal técnico de boa qualidade. O mesmo pode-se dizer, passe as subtis diferenças de abordagem, de Cattle Decapitation e Cryptopsy. Infelizmente, um trio de bons concertos acaba por ser prejudicado por acontecer no mesmo dia, tornando-se num ambiente algo repetitivo e que, quando comparado com o que se passou com os Possessed uns dias depois, acaba por ser imemorável. O mesmo não se pode dizer dos Agalloch. Numa toada muito mais ambiental que os seus colegas de palco, acabaram por sacar uma performance mais intensa do que seria de esperar. Quem os viu há uns anos, quando raramente tocavam ao vivo, não imaginaria o à vontade com que estão em palco hoje em dia. Mesmo deixando de parte temas que muitos quereriam ver, como Faustian Echoes e In the Shadow of our Pale Companion, não deixou de ser um excelente concerto, terminando de forma apoteótica com a magnífica Our Fortress Is Burning… II – Bloodbirds.
Acabou por ser na Arena SWR que encontrámos mais consistentemente qualidade e variedade. Primeiro com uns renovados A Tree of Signs, com Diana Piedade a substituir V-Kaos em definitivo na voz e Ricardo Remédio (de Löbo e RA) temporariamente nos teclados. Qualquer temor de falta de química em palco foi categoricamente desmentido, sendo que ter uma vocalista livre de outros encargos acabou por ser benéfico, comDiana a revelar-se bastante enquadrada no doom rock produzido pelo baixo cheio de groove de NH, sempre bem acompanhados por Pedro Tosher na bateria.
Cerca da meia noite vieram uns surpreendentes Heirs. Debaixo de uma densa penumbra, deixaram de lado grande parte dos prefixos post a que se costumam ver associados e partiram para um doom arrastadão e extremamente pesado, num daqueles concertos para deixar gente com tinnitus e pescoços pouco capazes de grandes movimentos. Depois disto, o rock despretensioso e com aproximações ao stoner dos Killimanjaro foi o final perfeito para a noite. Cheios de energia, deixaram a plateia em constante e festiva movimentação, ainda mais impressionante tendo em conta a tenra idade dos membros da banda. Quem não tinha ainda reparado neles certamente que os terá debaixo de olho no futuro próximo.