Lá andam eles de um lado para o outro, de copo na mão, chapéu de palha e óculos de sol – o festivaleiro citadino movimenta-se rapidamente para que não lhe escape qualquer oferta e entretenimento. Garrafas ficaram à porta, mensagens só mesmo as publicitárias, que enfeitam cada cantinho. Três palcos, um deles, o principal – Palco Super Bock, é o tão conhecido e recentemente rebatizado MEO Arena – no seu interior encontra-se, igualmente, o noctívago Palco Carlsberg, a funcionar a partir da 00:30, na Sala Tejo.
Mas falemos de boas notícias: do Palco EDP, onde virando costas ainda se vislumbra Tejo. Foi lá que começámos por ver King Gizzard And The Lizard Wizard. Duas baterias, um teclista de sintetizador que enfia o microfone na boca para criar mais mantos de som, num universo funky e psicadélico em que cabem diversas influências, desde brisas arábicas a contornos de decrescências célticas.
Do lado oposto onde estávamos, no Palco Antena 3, pessoas atiram-se para um insuflável gigante localizado bem ao lado do palco. De modo que é possível intervalar os acordes de Duquesacom gritos de adrenalina de feira popular, havendo sempre duas hipóteses de entretimento em aberto, caso a música não agrade.
Caminhada inversa, de volta ao EDP, para assistir a outra enorme avalanche de gritinhos, causados por outros tipo de adrenalina. A provocada pela idolatria e identificação, mediatismo que a pequena figura por detrás de Perfume Genius não logra nem por um segundo. As reacções são instantâneas mal o vislumbram em palco, de lábios pintados de vermelho, roupa de linho preto e collants da mesma cor. Intermitências para o início, ameaças defeedback de baixo, e uma aparente falha de energia eléctrica no Palco EDP – do nada, já Mike Hadreas disparava abraços junto às grades, acabado de sair do backstage – correria, fotógrafos acotovelam-se como necrófagos enquanto raparigas e rapazes, nem todos eles são jovens, abraçam à vez e tentam avidamente tocar no seu ídolo. E, apesar de esta ser daquelas actuações a que a noite favorece o misticismo e sensualidade teatral na colocação da voz e nos movimentos de Hadreas, não podemos dizer que houvesse qualquer outro factor dissuasor do bom espetáculo oferecido pela banda de Seattle.
Primeira visita ao Palco Super Bock, em fase de composição mesmo depois de terminar a actuação dos britânicos The Vaccines – a seguir vem Noel Gallagher (como Noel Gallagher’s High Flying Birds), menino de gema inglesa, esse hooligan pateta de cara e cabelo de Playmobil, com um concerto chato e sem alma. As bancadas começam também a encher-se – muita gente está já a guardar um lugar para assistir outro britânico, esse que se diz um “English Man In New York”, o homem da noite. Voltaremos para vê-lo.Gala Drop © Lais Pereira
Próxima paragem? Gala Drop no Palco Antena 3, com a noite a silenciar a folia do insuflável. Aqui para nós, o concerto da noite. Uma infinidade de riffs psicadélicos e percussões tropicais, reggae que não chega a sê-lo, passando por fases ambientais e líquidas. Tudo alicerçado por um groove constante e de uma voz xamânica, profunda mas expansiva, que se metamorfoseia na liturgia que a rodeia através de efeitos auto-tune utlizados na medida exacta. Sem conversa, músicas longas, e os olhos do lead singer não saltam das pálpebras. Uma banda lisboeta que toca mais fora do que propriamente em Portugal, e que possivelmente será também mais reconhecida por essa Europa fora do que por cá.
Voltámos a percorrer o recinto até ao Palco EDP. No caminho ao longo do rio, de parapeito forrado a papel publicitário, a que uma multidão, bem maior que a presente de onde saímos, assiste a umfreak show de astronautas aquáticos e luzes – acrobacias coreográficas sob a água com uma mochila de motor às costas – ou flyboard.
Já perante o palco que enfrenta o Tejo de fronte, um problema saltou ao ouvido, algo que já se pronunciara durante a tarde, mas que agora os constantes graves e o feedback intenso que bate no som de SBTRKT evidenciaram. Tudo por causa da pala da construção do Pavilhão de Portugal que cobre o palco e afrouxa o som em si mesmo. As grades perderam convivas mas isso não impediu que a dança fosse intensa, com muito público a juntar-se depois de o espetáculo na água terminar, oferecendo uma recepção que o som não fez lograr ao homem que se evidência no breu em palco com uma máscara de índio do “Crash Bandicoot”.
De volta, pela última vez, ao palco principal desta 21ª edição de SBSR. Quem está em cima do enorme palco? O Tom Sawyer – tem uma guitarra eléctrica nos braços e canta “If I Ever Lose My Faith In You”. O músico irlandês, de nome com cinco letras que cedo abafaram as seis de Police, Sting surge-nos à frente com uma enorme barba acinzentada, senhoras comentam com desaprovação e outras ainda reparam nos seus braços flácidos quando os ergue na direcção da plateia. Mas à segunda, “Every Little Thing She Does Is Magic”, os suspiros levaram a melhor – até ao fim. Quase mais nada a acrescentar. Uma viagem de automóvel que já todos fizemos, recordações de dedos a tamborilarem algures ao som de “English Man In New York”, “Message In The Bottle” e “Walking On The Moon” de The Police, “Roxanne” ou “Fragile”, que terminou o encore, perante um MEO Arena praticamente repleto. Tanto na plateia como, em particular, nas bancadas, que cantaram, ergueram milhares de objectivas e ovacionaram incansavelmente durante uma hora e meia. Stingretribuiu o amor, recebendo cada vez mais, e mais, até terminar – houve lágrimas.