E finalmente chega o último dia do festival. Ainda com o pó do dia anterior (as filas para o duche impediram-me de tomar banho), e com provavelmente alguns ninhos de rato no cabelo, entra-se no recinto sabendo-se o que a noite viria a confirmar: não iria haver nenhum concerto que chegaria aos patamares dos dois finais de ontem.
Curiosamente, o primeiro concerto do palco principal viria a ser a melhor abertura que este viu em todos os três dias: os X-Wifechegaram com um novo disco na bagageira, e deram um concerto exemplar do início ao fim (como sempre, aliás). Repescam alguns temas mais antigos (Fall e Realize, espectaculares), tocam as obrigatórias (On the Radio, claro), e encaixam na perfeição alguns temas novos, muito bem recebidos por um público já numeroso e que reagiu de forma efusiva ao rock do grupo. Energéticos e sem falhas, deram um óptimo concerto, que certamente deverá ter convertido a fãs alguns dos que foram ver sem saber o que esperar.
De seguida, veio Brandon Flowers (viu-se um pouco de Paus, e ficou-se com a sensação de que ia ser bom, mas seria melhor noutro sítio e noutras condições). Mais pop que nunca (em breve há-de começar a usar plumas e a fazer duetos com a Lady Gaga, é inevitável), o músico não conseguiu conquistar um público que, tal como se esperava, só se mostrou mais movimentado nos temas dos The Killers (ouviu-se Losing Touch, Read My Mind e Mr. Brightside), tocados em versões que são, acima de tudo, verdadeiras cuspidelas nas originais. Percebe-se que queira fazer algo de diferente, mas… não. Por favor, não. Não às versões e a tudo o resto. Que regresse aos The Killers (sim, ainda gosto deles).
Junip, a banda de José González, deu um espectáculo surpreendentemente bom, dado o intimismo que passa por In Every Direction, disco de estreia do grupo depois de dois EP’s. No concerto do Cinema São Jorge foi melhor, claro, mas a banda mostrou-se confiante e à vontade num formato que, à partida, não seria o mais ideal. Rope and Summit foi, tal como já tinha sido em Lisboa, um momento lindíssimo, e os arranjos funcionam bem, ainda que tudo acabe por soar um pouco mais despido. Um momento bonito, que pareceu convencer um público numeroso que parecia não conhecer muito do que estava a ouvir. Uma boa aposta.
E outro momento bem bonito foi o que os Elbow deram a um público numeroso (os The Strokes vinham já a seguir) que pareceu conquistado. Muitos não conheciam, mas viam-se alguns fanáticos pelo grupo, e o fanatismo percebe-se: letras honestas, arranjos simples mas eficientes, e melodias que embalam e convencem. Grounds For Divorce, por exemplo, foi um belo momento, em que o vocalista mostrou todo o seu carisma e conseguiu pôr o público a cantar um refrão que, à partida, não conhecia. E que dizer de One Day Like This, canção lindíssima que ao vivo resulta ainda melhor (aqueles violinos…)? Um belíssimo momento, num concerto belo que fez falta àqueles três dias.
Não muito depois, era a vez dos The Vaccines no palco EDP. Energéticos, com um indie rock em embalagem lo-fi, e um público onde muitos estavam lá de propósito por eles (não foram poucas as pessoas avistadas durante o dia com t-shirts da banda), estavam a dar aquele que tinha o potencial de vir a ser um dos melhores do festival. A voz e guitarras lembram Interpol, mas há ali originalidade e bom gosto no que se faz. Canções como Post Break-Up Sex conquistam facilmente qualquer um, e é difícil não saltar e abanar o pé perante uma banda com tanta energia e carisma. Óptimos em palco, e é com muita pena que se abandona o concerto (que, pelo que me disseram depois, já estava perto do fim), para ir ver os cabeças-de-cartaz da noite: The Strokes.
Um mar de gente que com dificuldade se fura, obviamente ansioso para ouvir o grupo de Casablancas. Mal entram em palco, ouvem-se os gritos do costume, e o grupo atira-se logo a New York City Cops, do grande Is This It. Um ecrã LED atrás que vai projectando alguns vídeos engraçados, e uma iluminação em contra-luz que nunca deixa ver a banda totalmente iluminada. As primeiras palavras que Casablancas diz são um “Hey, hey, hey! Yeah…”, e quando antes da terceira música o ouvimos a dizer ao microfone “Qual é a próxima? Reptilia? Ok, bora lá”, percebemos que o vocalista não está propriamente preocupado com o que está ali a fazer. Mais à frente, fala com a banda ao microfone sobre um erro qualquer até dizer “Oh, desculpem, esqueci-me que estamos a dar um concerto”.
Foram os The Strokes em piloto automático, sem grandes palavras ou ligação a quem os ouvia, mas… The Strokes em piloto automático ainda é The Strokes, e Casablancas e companhia sabem bem o que fazem. Tecnicamente irrepreensíveis em todos os aspectos (que guitarrista…), e com a voz de Casablancas a compensar a sua falta de preocupação no que estava ali a fazer, passaram pelos grandes clássicos do costume, com particular destaque, claro, para os êxitos de This Is It. Last Nite foi logo a quinta música (?!), e acabaria por vir a ser um dos momentos da noite, apesar de se sentir no ar o descontentamento do público em ver a forma como a banda encarava o que fazia: apenas mais um concerto, nada mais. Não foram poucos os que se viram a abandonar as fileiras da frente quando o concerto ainda ia a meio, e quando após pouco mais de uma hora o grupo sai e não regressa para encore, ouvem-se apupos pelo recinto. Encore nunca fazem, e tocaram as dezoito canções do costume… e tocaram-nas muito, muito bem.
Faltou, apenas, algo mais que apenas excelência musical. Basicamente: Casablancas tem de atinar, começar a voltar a ganhar gosto pelo que faz, e a perceber que há ali gente que pagou para os estar ali a ver. Mas foi, claro, um bom concerto, repleto de grandes momentos como a já mencionada Last Nite, ou a espectacular Hard to Explain ou Juicebox (talvez o melhor momento do concerto). Sabem bem o que o público quer ouvir, e equilibram bem o alinhamento entre todos os álbuns. As canções de Angles, infelizmente, não soam muito melhor ao vivo, mas foram tocadas com tanta separação entre si (bem pensado) que se iam diluindo no concerto em geral. Quem foi à espera do concerto do ano, deve ter ficado desiludido. Quem foi à espera de um concerto digno da banda que foram antes, idem idem aspas aspas. Quem foi apenas à espera de um bom concerto, certamente teve o que queria.
Agora, resta esperar que Casablancas atine (até pareceu honesto quando disse que tínhamos sido o melhor público), que comecem a ganhar mais gosto pelo que fazem, e que regressem mais parecidos à banda que eram antes. Foi, de qualquer das formas, um bom regresso (muito melhor que o que fizeram em disco), e a constatação da boa forma de um grupo que agora precisa apenas de começar a tocar por algo mais que dinheiro. As canções ainda são espectaculares, e eles, felizmente, ainda tocam espectacularmente bem. No final, leva-se com a onda de pó do costume, e vai-se calmamente para a tenda. Pelo meio, perdemo-nos graças à má iluminação do parque de campismo, e parece que estamos subitamente num mau remake do The Blair Witch Project.
Super Bock, até nos deste bons concertos, mas pelo amor de Deus, tens de atinar ainda mais que o Julian. Mas foi giro ouvir alguém gritar diferente “TRINDA CAR****!” todas as noites… às cinco da manhã.