O Amplifest aproxima-se a passos largos, e enquanto se galga tempo a Amplificasom não deixou de aguçar apetites. Dia 9 de Julho foi assim, e mesmo que alinhamento fugisse à proposta central do certame com Sun Kil Moon, foi nas mãos de Kozelek que esteve o melhor momento da noite.

Admitindo fragilidades à partida, e clarificando o ar, convém deixar claro que os projectos do Aaron Turner se estagnaram criativamente — a vossa fúria será só bem orientada na minha direcção se admitir que quero saber do que pensam; da mesma maneira, não deveriam querer saber o que o tipo que foi para ver Sun Kil Moon tem a dizer tanto de Mamiffer, quanto de Sumac.Aos primeiros, coube um início tépido de noite, em que a repetição melódica e harmónica, cadências rítmicas pouco desenvoltas e alguns problemas técnicos na recta final não conseguissem arrancar o completo potencial de compositora de Faith Coloccia, ali reduzida a dinâmicas de volume. O interesse que Mamiffer sempre me desperto, para minha própria desilusão, ficou-se na primeira música e na falta de desenvoltura de uma banda de estrelas — ou juntar-se Brian Cook e Aaron Turner a Coloccia já não pesa como há uns anos atrás.

Talvez com esse (des)encantamento em cima, e pela agradável quebra em Sun Kil Moon, também os ânimos para SUMAC estavam baixos: na verdade, poucas formas se viu de levar um grande riff do êxtase ao tédio como Turner e companhia têm feito nos dois longa-duração que editaram. A insistência na fórmula ambiental que Turner inauguraria com as explorações livres de Old Man Gloom e que, neste contexto, se queda pela repetição de acordes espaçados de guitarra cujas lacunas são preenchidos sem ânimo com cânticos algo cerimoniais é já um lugar-comum do norte-americano. Sumac é, sem dúvida, a sua banda que mais perde com isso. Para que fique claro: se têm um baterista como aquele, não é para ficar mais de metade de um disco parado a ouvir guitarras em clean ou ruídos. Deixem o homem tocar.

Foi o que aconteceu no Hard Club — deixaram Nick Yacyshyn tocar, dilacerar aquelas peles de bateria e levar o público a suplicar por alguma piedade pelo kit de percussão. Deixaram o ambiente em casa e perceberam o que em disco decidem ignorar — se é para tocar badalhoquices, não vamos trazer incenso para equilibrar. Não há equilíbrio possível na dimensão daqueles riffs, ou na pujança daqueles baixos, muito menos quando existe Yacyshyn metido ao barulho, meio homem, meio máquina, completamente insano.

A noite foi salva por um herói, mas houve o vilão — o que não se enquadrou, a cartada fora do baralho Amplifest, o homem da canção e da desenvoltura das palavras. Mark Kozelek não começou a actuação da melhor forma, com as músicas do menos conseguido álbum em colaboração com Jesu a arrancar reacções a ferros de um público mais hipnotizado pela sua constante acidez em palco (ainda que em tons humorísticos e inteligentes, a admitir ser a primeira vez a abrir para uma banda de metal e gozando com a situação, não para satisfação da maioria dos presentes) do que pelas canções.

Virou-se a página ao cancioneiro de Kozelek, para Benji, e os próprios Sun Kil Moon, que no Hard Club foram o ex-Red House Painters, Steve Shelly dos Sonic Youth, e um dos teclistas a acompanhar os National Information Society de Joshua Abrahams na última digressão, viraram o tabuleiro de jogo. As canções de Kozelek habitaram num mundo à parte, absorvendo quadrantes diferentes, desde os elementos pós aos trejeitos foleiros da pop, canalizando tudo num único concerto, e cruzando diferentes linguagens até ao ponto de comunicação Sun Kil Moon, em que, por poeiras jazz, rock, ambientais, folk e tudo o mais que fossem surgindo, assentavam todas sobre a égide da banda norte-americana, inequivocamente.

De guitarra acústica ao punho, ou acompanhado por banda, não há forma de retirar Mark Kozelek do seu campoenato, com um toque inconfundível. Agradável, contudo, foi ter visto o cantautor a jogar fora de casa e a fazer brilharete, mesmo a abrir para uns inspirados Sumac. Venha quem vier, há clássicos que justificam o estatuto.