Apesar de apenas decorrerem cinco anos desde o seu primeiro lançamento, The Phynx, Cameron Stallones, o homem por detrás de Sun Araw, tem-se mostrado repleto de ideias, com recorrentes discos e sucessivas colaborações com outros artistas. Outra queixa que não lhe pode ser direccionada é que se tenha mantido fiel a uma terminologia musical constante. Sim, a onda do psicadélico e do experimental estão normalmente presentes, mas sempre com uma dose nova e uma procura diferente a cada registo.
Esta constituiu a primeira dúvida motivacional para uma deslocação à ZDB: perceber qual o teor do que iria ser apresentado e qual a experiência que o americano iria colocar em palco. Diga-se em sua defesa que o experimentalismo exposto por Sun Araw não foi, em muitos momentos, de fácil apreensão. Conduzindo os seus sons através do incremento contínuo de pequenas partículas sonoras, Cameron e o seu companheiro de palco, iam misturando e agregando suficientes cargas, que dificultavam a compreensão e se traduziam em alvoroço.
Com The Inner Treaty editado o ano passado, notou-se que foi nessa incursão discográfica que se baseou o seu concerto. Comloops e repetição quanto baste, instituiu na Galeria uma espécie defunk, a lembrar batidas que, muitas vezes inconscientemente, nos reportam e perspectivam o tropicalismo. Não deixa de ser valoroso que um filho do árido Texas tenha a capacidade para criar umgroove libertário. Assim, esteve-se perante a exploração e a pesquisa sonora no seu máximo.
Com a sua guitarra e órgão, acompanhado pela caixa de ritmos e pela estranha flauta do seu ajudante, assistiu-se a uma construção que se baseava na assimilação de exíguos sons que, assentes na exaustiva duplicação, conseguiram criar um universo denso e ultra ritmado. Contudo, mesmo este foi muitas vezes abalado pela criação de algo que soava a desconexo, como mostrava a diferença de teor entre uma guitarra centrada nas componentes agudas, e um órgão que procurava precisamente o contrário, com toques graves e massivos.
Na ZDB, Sun Araw demonstrou que para este projecto pode não haver limites. Talvez a importância de ter sido figura na capa de uma revista como a Wire já nos indicasse isso. No entanto, ao vivo testemunhou-se que a música para ele é mesmo um campo de análise, muitas vezes difícil, mas que indicou o quão positiva é esta falta de fronteiras.
Antes de Cameron, Matthewdavid apresentou aquilo que tinha prometido. Uma mistura entre Hip Hop, New Age e até R&B, muito menos centrada na electrónica que podemos ouvir num disco comoOutmind. Beat atrás de Beat, Sample em cima de Sample, versátil quando canta ou quando incorre na debandada de palavras ,Matthewdavid poderá não ser musicalmente consensual, mas gabe-se-lhe a destreza para ter a coragem para apresentar algo pouco expectável.
O trio de concertos teve início com Diva e sua experiência musical muito baseada na performance. Começando por desferir, como a própria intitulou, uma “meditação guiada”, pediu uma espécie de relaxamento geral para ser possível uma conexão através da música. Numa forma harmoniosa, lembrando uma consulta musicada de psicanálise, o seu som mostrou-se essencialmente ambiental, assente em simples batidas, associado à sua voz a roçar o conto de fadas. Extremamente empenhada no caracter estético da sua actuação, como uma verdadeira Diva, não apresentou sonoramente nada que tantos outros já não tenham tentado.