Enquanto compositor Von Till escolhe a reclusão. Pelos campos do Idaho, onde vive e tem o seu estúdio. Há quem o identifique como a alma dos Neurosis e, apesar de não ter estado lá desde o dia um, a afirmação não é de todo abstémia de nexo. Foi com a sua entrada que a banda evoluiu de um esquelético punk hardcore super-realista para uma ciclópica representação das nossas entranhas psíquicas. Partiu do concreto rumo ao abstracto. ComVon Till, Neurosis redefiniu conceitos como extremoexperimental na música pesada. Foi possível anexar ao metal ramificações como tribalismo e tornar a componente electrónica uma camada tão violenta quanto qualquer guitarra amplificada. Se o post-metal é uma coisa, Steve Von Till é provavelmente o seu progenitor.

Não surpreende que a sua faceta a solo seja mais exploratória do que a do seu irmão de armas Scott Kelly. Se o último faz do less is more lema absoluto na criação acústica, Von Till caminha na direcção oposta. Sentimo-lo no seu outro alter-ego Harvestman e sentimo-lo também em todos os outros discos em que assina com nome próprio. Onde Scott vê uma mirrada frincha, Steve vê uma ampla janela e “Life Unto Itself” é precisamente uma glass house. Ou, se preferirem, um fresco onde observamos todos os caminhos que o compositor já trilhou. O pretérito perfeito no verbo trilhar é bem aplicado, pois o álbum assume-se mais como um compêndio de 25 anos enquanto criador do que algo absolutamente inédito. Vejamo-lo como uma apostila sépia, manchada pela terra e pelo tempo.

A beleza acústica de Steve Von Till em “Life Unto Itself” rebusca no folk e revive a americana enquanto objectos amovíveis. Elásticos. E não foi sempre assim? A ferve subtil pelo psicadelismo envolve-se nas guitarras que não ficam quietas sobre a madeira. Elas reverberam, laçam-se em pedais, mostram-se em ângulos distintos. Noutro gesto clássico, Von Till adiciona o pedal steel, redescobre o piano enquanto adição ponderada. A voz barítono permanece igual. Os versos presos à elementaridade, aos traços mais básicos que a vida exige também, pois o norte-americano é um homem que preza a família (a actual e a antepassada) e a natureza enquanto bens fundamentais. Os únicos. Sentimo-lo sempre nos seus discos a solo e voltamo-lo a ouvir cantando roucamente poemas de existência e eternidade.