Há quem vá ao Boom ou Freedom para entrar em absoluto trance (com ou sem a ajuda de estupefacientes evidentemente) mas no passado dia 27 de Fevereiro o MusicBox providenciou aos ouvintes das músicas negras o melhor e mais completo trance musical. À entrada, o segurança deu-me logo uns tampões para os ouvidos, interiormente ri-me, mas honestamente a verdade é que fui pondo-os e tirando-os ao longo da noitada drone e experimental. A certa altura, ponderei se a estrutura do MusicBox iria aguentar com tantos amplificadores e se a Rua do Alecrim não iria desabar a dada hora. Certamente foram abertas novas fissuras nas paredes mas foi sem qualquer dúvida uma noite imperdível que deixou a ressoar na caixa toráxica de cada um vários acordes.

Filipe Felizardo @ Musicbox, Lisboa

Filipe Felizardo @ Musicbox, Lisboa

Filipe Felizardo @ Musicbox, Lisboa

Filipe Felizardo @ Musicbox, Lisboa

Filipe Felizardo @ Musicbox, Lisboa

Filipe Felizardo @ Musicbox, Lisboa

Filipe Felizardo @ Musicbox, Lisboa

Filipe Felizardo

Começámos a noite com um cá dos nossos. A música experimental portuguesa não estaria completa sem um dos seus principais embaixadores, Filipe Felizardo. A sua diversidade artística já é bem conhecida da prolongada residência na Galeria Zé dos Bois mas são os seus acordes que nos fazem, literalmente, vibrar. Um dos exemplos primordiais para, como dizia António Variações, mudar de vida, é Filipe Felizardo ele próprio. A sua paixão pela guitarra e o cuidado com que intervala o som com o silêncio é justamente uma ode a todos os componentes auditivos.

Stephen O'Malley @ Musicbox, Lisboa

Stephen O'Malley @ Musicbox, Lisboa

Sem querer pôr de parte os nossos camaradas nacionais, o mais aguardado da noite foi indiscutivelmente Stephen O’Malley. Ele não dedilha a sua guitarra no meio do palco, refugia-se num dos cantos e deixa a audiência tirar proveito de uma verdadeira experiência audiovisual elevada, sem qualquer dúvida, pela música em si. Há tempos, numa conversa com Stephen, contou-me que um dos melhores concertos dele foi com um público pequeno que se sentava no chão de olhos fechados, ou rodopiava na sala, também eles de olhos fechados. Ora eu fiz justamente isso, sentei-me (não no meio do chão por razões óbvias), fechei os olhos e deixei-me levar pelo mestre das jornadas épicas ao subconsciente. Uma verdadeira desconstrução da música, uma revelia contra a pauta, que prolonga uma só nota quase ao longo de uma hora com as distorções que são assinatura dos projectos de O’Malley.

Stephen O'Malley @ Musicbox, Lisboa

Stephen O'Malley @ Musicbox, Lisboa

Stephen O'Malley @ Musicbox, Lisboa

Stephen O'Malley @ Musicbox, Lisboa

Stephen O'Malley @ Musicbox, Lisboa

Stephen O'Malley @ Musicbox, Lisboa

Stephen O’Malley

Terminámos a nossa cura auditiva com os portugueses Process Of Guilt. O palco fica mais composto e agora ouvem-se vozes, mas a peregrinação daquela noite não poderia ter tido melhor fim. A força musical da banda é transmitida como que por osmose e é impossível ficar indiferente à sensação de que talvez nós, o público, somos indestrutíveis. O pescoço poupado durante as primeiras horas põe-se agora em movimento para aplaudir silenciosamente uma das melhores bandas nacionais do underground.

Process of Guilt @ Musicbox, Lisboa

Process of Guilt @ Musicbox, Lisboa

Process of Guilt @ Musicbox, Lisboa

Process of Guilt @ Musicbox, Lisboa

Process of Guilt @ Musicbox, Lisboa

Process of Guilt @ Musicbox, Lisboa

Process Of Guilt