O Sonic Blast é um festival de coordenadas pouco habituais, onde a praia e explanadas são invadidas todos os anos por festivaleiros rebeldes. O sítio ideal para criar um certame onde as rotas geográficas permitem ir buscar alguns dos mais promissores grupos galegos para juntar a um cartaz que também traz até Moledo bandas nacionais e outras vindas doutros pontos do globo.
O palco da piscina foi estreado com os Mother Abyss. A banda fez poucos quilómetros, já que nasceu em Viana do Castelo, e trouxe o seu sludge melódico mas visceral, onde se notam alguma influências de death metal presente no seu The Ritual. O seu set cru serviu para aquecer ainda mais o já de si quente e radiante dia de sol que se fazia sentir em Moledo. Serviu então o descanso dado pelo atraso no concerto dos Libido Fuzz, marcado por problemas no soundcheck. O rock psicadélico da banda francesa, que se mistura com stoner não entusiasmou por aí além numa banda demasiado balizada entre os clichés do género. O único sobressalto gerado, foi a invasão de palco por um fã do festival que viria a repetir graça ao longo da contenda. A festa na piscina voltou a ter como protagonistas bandas nacionais. Os maiatos Super Snail Fuzz animaram as hostes com uma enorme amálgama dificilmente definível e que absorve influências dos Fu Manchu. O seu álbum Space Mountain está bem condimentado com fuzz sludge e stoner e foi essa a tendência que marcou o seu directo.
A passagem para o palco principal aconteceu com os galegos Guerrera, um dos bons projetos do norte de Espanha, que com o seu blues-rock com laivos psicadélicos mostra porque são considerado neste momento umas das formações mas promissoras do rock espanhol, com uma proposta que se torna ao vivo ainda mais profunda e enérgica e dá outra dimensão ao seu excelente Under The Gipsy Sun. Desse enorme paraíso musical que é Barcelos chegaram os Killimanjaro, mais uma banda promissora exportada desse território do rock. O seu concerto foi cheio de riffs poderosos, electrificado por guitarras convulsivas que chocam e transformam tudo num momento epopeico. A força do seu rock é vincada pela influência de clássicos como são os Black Sabbath, e que certificam a incrível dose de potência daquela noite.
Os Mars Red Sky chegaram para manter a toada do stoner rock psicadélico, fortemente presente nesta noite. A música dos franceses alterna uma vocalização melancólica com o psique esculpido num cruzeiro em ácidos. Os arranjos são elegantes mas ligeiramente inócuos e apresentar bons instrumentais interligados, são bastante previsíveis. A suavidade dos riffs afogados em ecos não resulta e apesar das nuances refrescantes do seu som, não conseguem cativar nem fazer ninguém derramar uma lágrima pela sua vertente mais emocional. Isto antes de chegarem os Mars Red Sky que de alguma maneira servem de contraponto à atuação anterior. Os holandeses não são demasiado dissidentes do espírito geral do festival, acrescentam progressões e fuzz impulsionando por uma percussão diabólica. O baterista é o epicentro do terramoto e consegue conciliar o doom e stoner com uma estética moderna e atitude punk. Uma bela chapada na cara que contagiou a noite com a sua vitalidade e nem o amplificador aguentou tamanho poder.
Foram os Kadavar que reuniam a maior parte das atenções nesta noite. Trouxeram um heavy metal de tom clássico, que relembra com estrondo mas melhores memórias do passado do melhor que fez nas sonoridades mais pesadas onde o baixo que recorda velhos clássicos dos U.F.O. e uma guitarra que faz lembrar o hard rock mais vintage. Há também uma aura Led Zeppelenisca que transcende o álbum Abra Kadavar. Há uma efervescência ácida em que os gemidos do seu vocalista surgem por entre o borbulhento baixo, solos virais de guitarra estoiram nos nossos ouvidos e há uma aura dos 70s em tudo aquilo. Há doses altamente voltaicas nesta brigada com roupas de obsessão retro, a velocidade e explosividade combinam com uma música inteligente e refinada. Não serão a banda mais inovadora, os Kadavar deram-nos um set cheio de do rock mais áspero, sujeito às suas mais fortes travessuras. A trilha sonora ideal para aumentar o divertimento, tornando o certame numa inebriante festa proto-metálica.
A noite terminaria de maneira perfeita, com os math-rockers galegos Unicornibot que tornaram a noite dos resistentes num tremendo festão. Os riffs poderosos misturam-se com um ritmo bem dançavel e que despera a loucura por entre uma festa tremenda que se vai criando. Os Unicornibot conseguem misturar vários mundos no seu concerto. São frenéticos, sem deixarem de ser tremendamente virtuosos, crescendos portentosos, com ritmos e beats a misturarem-se numa complexa teia para a satisfação de todos. Houve espaço para abrir o apetite para o disco vindeiro chamado Mambroton com data de saída para ínicios de Setembro. A alegria e simpatia da banda leva que uma grande quantidade de fãs subam a palco para partilharem alguns memoráveis momentos mais de perto com esta talentosa formação. Fim de noite perfeito que nos deixa boas recordações e a ânsia de repetir no próximo ano.