Detroit soube quando a Slum Village lhe bateu à porta, em 1996. O próprio rap não mais foi o mesmo depois de conhecer J DillaBaatin e T3. Culpas, sobretudo, para J Dilla  completava o trio de MCs, mas foi como produtor que gravou o brasão da SL na história da música rap, assim como a sua própria assinatura: Jay Dee; registando-se posteriormente, após a sua morte em 2006, com um estatuto aproximado ao de lenda. Mais por isso, que pelo EP “Vintage” (recentemente lançado pelo grupo composto hoje por T3 e Illa J), aconteceu a tour que os levou ontem ao Ministerium Club – e no dia anterior ao Plano B, no Porto.

A dupla é acompanhada pelo DJ e produtor Young RG, o também MC sobre quem, nessa faceta, tem sido encarregue a missão de animar as hostes antes da entrada em palco dos dois rappers da actual SL, seguindo então para os pratos. A missão foi bem sucedida: o multifacetado hip-hopper conseguiu pôr uma sala já bem composta, e ainda em composição, a gritar repetidamente “Oh Shit” ao longo de sete temas – o seu lema, explicou logo ao ínicio.

Illa J, que é irmão do falecido fundador de SL, entrou primeiro, iniciando na primeira pessoa a homenagem prometida a J Dilla dada pela tour “Vintage”. Depois T3, o único membro fundador que ininterruptamente se tem mantido no colectivo, falando dos primórdios de SL que então assinava com Ssenepod (dopenesse escrita ao contrário) mas, sobretudo, de J. Dee. Projectaram-se imagens de equipamento e apontamentos sobre o seu processo de criação, fotos rara, e contaram-se algumas histórias. Sobretudo sobre uma casa de aspecto duvidoso em Detroit, por onde passaram os muitos nomes que colaboraram com Dilla (A Tribe Called Quest, Busta Rhymes, The Pharcyde, entre outros) e aconteceu todo o processo criativo dos clássicos “Fastastic, Vol. 1” e “Fantastic, Vol. 2”.

A paixão foi garantida, em grande medida, ao seu impacto – materializando-se esta ontem em Lisboa num Ministerium Club cheio. O amor aconteceu à primeira e foi recíproco, num início prometedor com a óptima “Fall In Love”. Tal como o exortar de Dilla, o culto dos Fastastics é a âncora que mantém o colectivo vivo no underground, sítio de onde nunca saíram e são motivo de reverência; abafados, a meio, os lançamentos de “Villa Manifesto” e “Evolution” (2010 e 2013) pela onda trap e por um legado difícil de ultrapassar. Foi, portanto, de um desfilar de clássicos que se fez a actuação do trio de Detroit. Com faixas como “I Don’t Know”, “Jelously”, “Raise It Up” ou “Tell Me”, provenientes de “Fantastic Vol. 2”; de “Fan-Tas-Tic Vol.1” (editado em 2005, sendo que a versão original de 1998 nunca chegou a sê-lo) proliferou-se pela plateia a ode ao hip-hop germinada no fabuloso beat e no feeling de “The Look Of Love”. Descrição que convém, aliás, ao total do concerto.